Título: Brasil e Argentina analisam usina
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Fonte: O Globo, 14/08/2007, Economia, p. 23
Países retomam projeto da hidrelétrica de Garabi, iniciado há 35 anos.
BRASÍLIA. O risco de novos apagões e a convicção de que é preciso garantir sustentabilidade ao crescimento de suas economias levaram Brasil e Argentina a desengavetar um projeto iniciado há 35 anos e a caminhar a passos largos para a construção de uma megahidrelétrica binacional no rio Uruguai. Trata-se de Garabi, no município de Garruchos (RS). As projeções iniciais são vultosas: os investimentos são estimados em cerca de R$6,5 bilhões, com um potencial de 1,8 mil megawatts (MW) - equivalente à demanda de uma cidade de 5 milhões de habitantes.
Os números, no entanto, podem ser revistos. De acordo com o ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner, o projeto original de Garabi prevê a construção de uma usina excessivamente grande, que englobaria enorme área territorial e com fortes impactos socioeconômicos e ambientais. É possível que ele seja desmembrado, a exemplo do que foi feito com o complexo hidrelétrico do Rio Madeira.
Nesse caso, o próprio governo reconheceu que os impactos sociais, econômicos e ambientais seriam um entrave e optou pela construção de duas usinas - Santo Antônio e Girau -, que, juntas, terão capacidade de cerca de 6,5 mil MW. A licença ambiental para as usinas foi liberada mês passado.
- Estamos (brasileiros e argentinos) fazendo avaliações sobre a regulação de cada país, além de estudos ambientais integrados. Há todo o interesse em tocarmos esse projeto - afirmou Hubner ao GLOBO, acrescentando que a decisão deve levar ao menos dois anos para ser tomada.
Projeto fora abandonado por razões ambientais
Iniciadas em 1972, as negociações do projeto Garabi foram interrompidas nos anos 90, quando cálculos apontavam um passivo socioambiental de ao menos US$200 milhões para o lado brasileiro. O tema voltou à tona nas últimas semanas, com a crise energética na Argentina. Foi um dos pontos centrais de uma conversa entre o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o chanceler argentino, Jorge Taiana, há cerca de uma semana, em Brasília.
- Já se está trabalhando e avançando de maneira bastante decidida nessa obra - afirmou Taiana, após o encontro com o chanceler brasileiro.
- Temos interesses comuns em nos ajudarmos na área de energia - reforçou Amorim.
Atualmente, Garabi é um complexo de termelétricas de importância estratégica para a Argentina. Saem de lá 1 mil MW por dia de energia para abastecer o país vizinho. Se o novo projeto for em frente, a hidrelétrica será repassada pelos governos brasileiro e argentino ao setor privado em regime de concessão, segundo fontes do governo. Estima-se que sejam gerados dez mil empregos diretos durante as obras.