Título: Constrangimento e promessas
Autor: Camarotti, Gerson e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 15/08/2007, O País, p. 3

Parentes de vítimas vaiam Jobim e depois ouvem oferta de ajuda por indenizações.

PORTO ALEGRE. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi vaiado ao chegar ontem ao Palácio Piratini, em Porto Alegre, para uma reunião com parentes das vítimas do vôo 3054 da TAM, e teve de entrar por uma porta lateral para evitar a manifestação. Cerca de 30 pessoas, vestidas de preto, diziam fazer parte do Movimento Luto Brasil.

O grupo vaiou a passagem do carro do ministro e convocou as pessoas presentes na Praça da Matriz, onde fica o Palácio Piratini, a comparecerem à manifestação que será realizada sexta-feira, quando se completa um mês da tragédia em Congonhas. A reunião com as vítimas foi feita a portas fechadas, sem a presença da imprensa.

Jobim se comprometeu a intervir junto à empresa aérea para que seja justa ao negociar as indenizações a que as famílias das vítimas têm direito. Os familiares reclamam que a posição da TAM é dúbia em relação ao assunto. Este foi o tema que predominou no encontro. Foi marcada para amanhã, às 16h, nova reunião entre Jobim, familiares e representantes da empresa área, em São Paulo, quando o tema será novamente discutido:

- Entreguei ao representante dos familiares (advogado Luís Carlos Salcedo) na reunião um documento que recebi da TAM sobre as providências que tinham sido tomadas. Pedi que eles examinassem cada uma dessas informações. Estou checando as informações prestadas pela empresa, se realmente aquelas condutas referidas nesse documento estariam sendo atendidas - disse Jobim, que prometeu defender o respeito aos direitos e à vontade dos usuários das empresas aéreas.

Parentes das vítimas disseram ter saído da reunião mais confiantes nas ações do governo:

- Ficou claro uma coisa: se o ministro Jobim não der solução aos problemas, não vai permanecer no cargo - disse o advogado Osvaldo Matos.

Outro participante do encontro com Jobim, Eurípedes Conceição, afirmou:

- Os familiares querem abrir a caixa-preta da TAM com as informações sobre as indenizações. O que eles estão oferecendo é uma esmola. Ninguém quer ganhar dinheiro com a perda de seus parentes. Mas queremos justiça e que o governo vá para cima da TAM, que está nos enrolando.

A reunião durou uma hora e meia e contou com a presença da governadora Yeda Crusius (PSDB). Jobim disse que é preciso construir da dor coletiva soluções de segurança para a aviação civil brasileira. O ministro disse que o governo não vai abrir mão de suas responsabilidades, pois há dois aspectos na questão da segurança da aviação civil: o público, que diz respeito à infra-estrutura portuária, e o da circulação aérea, incluindo a malha e o tráfego aéreos.

- Isso é responsabilidade direta do Estado. E diz respeito ao estado das pistas. Isso é um problema que não deveria existir, mas existe. O estado dos terminais é ótimo, mas os das pistas, não. Quando se falava em aeroporto só se falava em conforto de passageiro e nada de pista. Temos que inverter nisso, nos preocuparmos mais com estado de pista e instrumentos.

O ministro disse que a partir de segunda-feira será examinada a questão da Anac:

- Esta questão será examinada, dentro do conjunto de revisão que faremos sobre a aviação civil brasileira. Temos que discutir se agência é compatível com o modelo de serviço da aviação civil brasileira ou não. Temos que ter um sistema funcional. Repito: eu não quero saber se o gato é branco ou preto. Importa que ele coma o rato. Eu sempre me fio em gatos vermelhos.