Título: Coaf acha discrepâncias nas contas de Renan
Autor: Carvalho, Jailton de e Vasconcellos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/08/2007, O País, p. 8

Presidente do Senado agora parte para o ataque a João Lyra, de Alagoas, a quem acusou até de homicídios.

BRASÍLIA. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta discrepâncias na movimentação financeira do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A análise está em poder do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. O relatório do Coaf não deixa claro o grau de importância das divergências encontradas na movimentação financeira do senador. As informações estão sendo confrontadas com outros dados obtidos pela Procuradoria-Geral.

Para ampliar a investigação, Antonio Fernando pediu à Polícia Federal cópia do laudo que o Instituto Nacional de Criminalística (INC) está fazendo sobre notas fiscais, guias de transporte de animais e declarações de renda, entre outros papéis apresentados por Renan ao Conselho de Ética do Senado como parte de sua defesa.

Laudo da PF já está quase pronto

O laudo está praticamente pronto. Os peritos já responderam a quase todas as 30 perguntas dos integrantes do Conselho. Falta analisar alguns poucos documentos encaminhados à perícia esta semana. Entre esses documentos não constam extratos bancários da jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha. Ela teria prometido apresentar os papéis ao Conselho e, a partir daí, ao INC. O senador sustenta que tem renda suficiente para pagar pensão de R$12 mil a Mônica. O primeiro laudo da PF apontou inconsistências nos documentos dele. A tendência do novo laudo é reafirmar parte das falhas detectadas na primeira análise.

No mesmo dia em que o empresário João Lyra anunciou que se dispõe a contar detalhes ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), sobre a sociedade secreta que manteve com Renan na JR Rádio Difusora de Alagoas, o presidente da Casa partiu para o ataque. Falando do plenário, Renan negou a sociedade com Lyra e desqualificou suas declarações, destacando processos judiciais. Lyra não quis falar no Senado. Tuma irá a Maceió ouvir seu depoimento.

- Essa paparrotada que se renova a cada fim de semana é promovida pela revista "Veja", com a cumplicidade nefanda de meus poucos adversários na política regional, na política alagoana. Agora, finalmente, já conhecemos seus nomes, sobrenomes e faces. Um deles acusado de vários homicídios, processado por vários crimes de mando e respondendo a vários processos por sonegação fiscal, sendo, nessa questão específica, réu confesso - disparou Renan.

Tuma embarca amanhã para Alagoas:

- Por razões óbvias, ele (João Lyra) não quer vir a Brasília, mas se dispôs a colaborar. Não se opôs nem mesmo que eu vá acompanhado por representantes do Ministério Público.

- Essa é uma disputa regional que essa gente atabalhoada quer trazer para o Senado, com falsos ares de escândalo nacional. Rádios, nunca possuí, formal ou informalmente. Nem muito menos mantive sociedade secreta com qualquer pessoa. Meu mais recente detrator, depois da fácil acusação, agora, egresso do anonimato, mostra sinais de fraqueza e recuo - reagiu Renan.

O presidente do Senado também tentou desfazer o mal-estar com os rumores de que estaria tentando intimidar colegas, como os líderes do PDT, Jefferson Péres (AM), e do Democratas, José Agripino (RN):

- Fiquem certos de que não tenho alma ou pendor para inquisidor.

Relatores vão convidar Renan para depor semana que vem

No Conselho de Ética, a intenção do trio de relatores do processo contra Renan - Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) - é de convidá-lo para depor já na próxima semana. Renan deverá ser notificado tão logo os relatores recebam o resultado da perícia da Polícia Federal.

A segunda representação contra Renan, sobre sua suposta participação em negócio do irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), com a cervejaria Schincariol, será relatada pelo senador Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan. Casagrande e Marisa Serrano recusaram pedido do presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), para que o trio assumisse também essa relatoria.

Sob o comando da presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, um grupo de parlamentares e cerca de 50 manifestantes fizeram protesto na rampa do Congresso Nacional e, em seguida, entregaram ao segundo vice-presidente do Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), uma lista com 60 mil assinaturas em favor do movimento "Fora, Renan".

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