Título: Pochmann: 'O Estado brasileiro é raquítico'
Autor: Rodrigues, Luciana e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/08/2007, O País, p. 10

Novo presidente do Ipea diz, porém, não saber como compatibilizar um Estado mais forte com o ajuste fiscal.

BRASÍLIA. Ao tomar posse ontem como presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Márcio Pochmann defendeu o fortalecimento do Estado brasileiro que, segundo ele, está "raquítico". Pochmann criticou a rigidez do processo orçamentário no Brasil e disse que os funcionários públicos representam 8% da população ocupada no país, enquanto na década de 80 esse patamar era de 12%.

Pochmann destacou que esse patamar é significativamente maior nos países em desenvolvimento: nos Estados Unidos, são 18%, e na Europa, 25%. Mesmo nos países escandinavos, que são "modelo de democracia com justiça social e competitividade avançada", disse Pochmann, os funcionários públicos representam 40% dos empregados.

- O Estado brasileiro é raquítico - disse Pochmann.

Perguntado, em entrevista, se defendia um aumento no número de funcionários públicos, Pochmann disse que não necessariamente deveria haver mais contratações, mas sim uma reforma do Estado, em contraposição ao que chamou de "destruição do Estado". Segundo ele, nos últimos 20 anos, houve uma redução em 2,5 milhões no número de funcionários públicos e as estatais, quando privatizadas, demitiram outros 500 mil trabalhadores. Por isso, é preciso ter uma melhora qualitativa e quantitativa do Estado daqui para a frente, defendeu o economista.

Mangabeira diz concordar com Pochmann

Para explicar sua posição, Pochmann disse que não há pessoal suficiente sequer para fazer a gestão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foi lançado em 22 de janeiro. O economista defendeu uma discussão sobre qual será o papel do Estado nos próximos 20 anos. Ao ser perguntado sobre como compatibilizar um Estado mais forte com o ajuste fiscal, Pochmann admitiu não ter resposta.

Mas destacou que há muitos gastos públicos que não são operacionais, citando o que é pago com o serviço da dívida pública, despesa hoje na casa de 7% a 8% do Produto Interno Bruto (PIB).

- Esse é um gasto que não gera emprego, não gera inclusão - disse Pochmann.

Pochman disse que não houve uma reforma do Estado e que esse é um debate a longo prazo e que, por isso, não tinha as respostas de como isso se aplicaria às medidas do próprio governo de tentar reduzir os gastos com funcionalismo público, que crescem a cada ano, principalmente no Legislativo e no Judiciário.

O economista citou como exemplo os planos de desenvolvimento dos anos 50, do presidente Juscelino Kubitschek.

- JK tinha uma meta parecida - disse ele.

O ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger, que deu posse a Pochmann, também citou as limitações do Estado brasileiro em seu discurso.

- O Estado brasileiro, apesar de aparentemente grande, é frágil. A organização de um aparato burocrático profissional não se completou entre nós. Por isso, teve o Ipea de fornecer ao Estado brasileiro alguns quadros que nos faltavam - disse Mangabeira.