Título: Comoção e crítica no enterro do piloto
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 16/08/2007, O País, p. 4

Mãe de Kleyber Lima desmaiou; padre refutou acusações de falha humana.

FORTALEZA. Em clima de comoção, foram enterrados ontem os restos mortais do comandante Kleyber Aguiar Lima, de 54 anos, piloto do Airbus A320 da TAM que explodiu ao colidir com um prédio da empresa há 28 dias, em Congonhas. O caixão, lacrado, foi coberto com a bandeira do Brasil. O piloto, que tinha 27 anos de experiência, foi chamado de herói do ar pelo padre que celebrou a missa de corpo presente, acompanhada por mais de cem pessoas, na capela do Cemitério Parque da Paz.

Os elogios do padre Francisco Nélio Façanha de Abreu foram seguidos de críticas às acusações de que uma falha humana teria sido uma das causas do acidente. Filiado ao PSB, o padre afirmou que quem diz isso são caluniadores e que o "mal maior está em Brasília, naqueles que não completam os projetos nem regulamentam as leis". Ele invocou Santo Agostinho ao pedir perdão aos que falam "coisas absurdas" contra o piloto.

- Ele teve o privilégio de voar como um pássaro e agora está no céu, sem as calúnias e a maldade dessa vida. Nem depois da passagem (morte) temos sossego, porque vêm os caluniadores. Ficam discutindo coisas que não vão trazer nosso irmão de volta e maculam a imagem dele.

Padre Francisco Nélio fez referência ao tamanho da pista de Congonhas como possível causa da tragédia.

Funcionários da TAM consolaram mãe do piloto

A mãe do comandante, Maria Guedes, de 78 anos, desmaiou no velório e foi socorrida por paramédicos de uma empresa contratada pela TAM para assistir a família. Uma irmã e uma tia de Kleyber também passaram mal. Dona Maria e os quatro irmãos do piloto foram consolados várias vezes por funcionários da TAM. Colegas de trabalho de Kleyber participaram do funeral. Eles abraçaram a mãe do piloto, que chorava muito:

- Meus Deus, levaram minha vida - repetia ela.

- Quero dizer da felicidade de ter acabado esse ciclo, de poder fechar essa história - disse sua irmã Sheyla.

- Embora seja difícil, esse momento é reconfortante porque acabou a espera pelo corpo - afirmou Haroldo, sobrinho do piloto.

Parentes e amigos vestiram uma camiseta branca com uma foto do piloto e a inscrição bíblica "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me receber a coroa da justiça que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia".

Um amigo de adolescência de Kleyber Lima, o comandante aposentado Paulo Gomes, ressaltou o perfil meticuloso do amigo, com quem fez curso de formação de piloto, e disse não acreditar que falha humana tenha sido a causa do acidente.