Título: Pertence pede aposentadoria do Supremo
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 16/08/2007, O País, p. 5

Decano da Corte sai antes do julgamento do mensalão.

BRASÍLIA. O julgamento mais aguardado dos últimos anos no Supremo Tribunal Federal, que decidirá na semana que vem se aceita ou não a denúncia da Procuradoria Geral da República contra os 40 acusados de operarem o mensalão, será desfalcado pelo decano da Corte. Depois de 18 anos no STF, Sepúlveda Pertence pediu a aposentadoria. Ele seria obrigado a se afastar em 21 de novembro, quando completa 70 anos, mas antecipou a saída. O presidente Lula, com isso, indicará o sétimo dos 11 ministros da Corte.

- A sensação é de alívio. Depois, virá fatalmente a saudade - confessou o ministro, que tomou posse em maio de 1989, no governo Sarney.

Nos últimos dias, Pertence tentou se esquivar de notícias sobre sua saída antes do julgamento do mensalão. Ontem, negou que a amizade com Lula e outros caciques do PT tenha influenciado a decisão.

- Foi uma decisão solitária, na madrugada. Interrompido o sono, escrevi o requerimento.

O pedido foi entregue no fim da sessão de ontem à presidente do STF, Ellen Gracie, que não conteve as lágrimas e deixou o plenário para comandar uma solenidade.

Protocolado o pedido, Pertence aliviou a tensão com um copo de uísque, rodeado por filhos e amigos. Lembrou que freqüenta a Corte desde 1961, quando foi nomeado assistente jurídico da prefeitura do Distrito Federal. Dois anos depois, passou em primeiro lugar para o cargo de promotor do DF, mas foi cassado em 1969. Após a ditadura, voltou ao Ministério Público e teve papel fundamental na Comissão Afonso Arinos, que sistematizou o texto da Constituição de 1988. Pertence presidiu o STF entre 1995 e 1997.