Título: Recall da Mattel: loja pode ser responsabilizada
Autor:
Fonte: O Globo, 16/08/2007, Economia, p. 27

Ministério da Justiça investigará denúncias e condições de troca de brinquedos com riscos à saúde das crianças.

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, abriu processo para investigar as condições do recall de 850 mil brinquedos da Mattel, das linhas Polly, Barbie e Batman, no Brasil. A empresa pode ser multada em até R$3 milhões se for constatada demora na averiguação de problemas e dificuldades no contato com os consumidores. O diretor do órgão, Ricardo Morishita, disse que também foi emitida uma nota para obrigar o recolhimento dos brinquedos defeituosos das lojas. Se a venda continuar, os comerciantes podem ser responsabilizados.

- O comerciante que continuar vendendo os brinquedos pode ser co-responsabilizado e até sofrer multa - disse Morishita, lembrando que os valores vão de R$300 a mais de R$3 milhões.

Hoje, Morishita se encontra com representantes da Mattel para apurar denúncias, como falha de comunicação. Por exemplo, há uma denúncia de que o site da empresa tem a página inicial em inglês, a partir da qual se acessa o texto do recall em português:

- A empresa não divulgou o site como forma de comunicação com os clientes, mas é lógico que tentarão clicar no www.mattel.com.br.

Morishita disse não saber se os brinquedos defeituosos tinham o selo de aprovação do Inmetro. Segundo a própria Mattel, há perigo de crianças engolirem ou aspirarem ímãs dos brinquedos da lista. Morishita disse que há denúncias de que o sistema de troca é muito burocrático. Ele informou ainda que enviou nota aos órgãos de defesa do consumidor para que acompanhem o comércio.

Na loja PlaneToy do Botafogo Praia Shopping, o GLOBO conseguiu comprar, ontem à noite, um brinquedo que faz parte do recall - Polly Festa da Sereia. Em São Paulo, a filial da Lojas Americanas no Shopping West Plaza ainda vendia o boneco Batman - Magna Shield, incluído no recall.

Na Casa dos Brinquedos, no BarraShopping, nenhum documento exposto informava sobre a retirada dos produtos. À tarde, uma vendedora disse que os brinquedos tinham sido recolhidos. O gerente-geral da Brink Center, Luiz Carlos Silva, afirmou que as bonecas Barbie atingidas pelo recall foram retiradas das seis filiais da rede, e que os demais itens da lista não estão nos estoques. Outros produtos da linha Polly Pocket com ímãs estavam nas prateleiras das filiais do BarraShopping e do Rio Sul. Na PB Kids, a orientação dada é que cada loja recolha os itens imediatamente.

Na Lojas Americanas do BarraShopping, a prateleira que tinha bonecas Polly estava vazia, assim como na filial da Rua do Ouvidor. No Rio Sul, um cartaz informava que os modelos da lista tinham sido retirados.

Consumidor enfrenta "inquérito" por telefone

O Procon-SP notificou a Mattel a prestar esclarecimentos, em 48 horas, sobre o procedimento em relação aos produtos comprados no exterior, e por que os brinquedos terão que ser analisados antes do reembolso. O Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Rio de Janeiro (Ipem-RJ) fará fiscalização hoje de brinquedos nas lojas.

Apesar de ser o segundo recall da Mattel em menos de um ano, o diretor da Qualidade do Inmetro, Alfredo Lobo, avalia que não houve erro no processo de certificação. Mas informa que enviou em dezembro, ao Mercosul , um pedido de análise sobre a necessidade de rever critérios de certificação:

- O problema é o que entra ilegalmente. Sobre esses, não há qualquer tipo de controle.

O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista Costa, disse que a entidade deve entrar na Justiça contra a Mattel. Os sucessivos recalls, disse, geram "um dano incomensurável", especialmente perto do Dia das Crianças.

A Abrinq estima que 40% dos brinquedos vendidos no país são produzidos no exterior, a maioria - 95% - na China.

No Brasil, o atendimento da Mattel transforma o recall em um inquérito. Em um teste feito pelo GLOBO, após dez minutos aguardando, o cliente precisa explicar o motivo da ligação e o tipo de brinquedo. A atendente pede nome, data de nascimento e grau de parentesco da criança com a pessoa que está telefonando. Em seguida, a pessoa deve informar CPF, telefone, data de nascimento, nome completo, CEP e endereço. Depois, a atendente pede que as informações sejam repetidas e, finalmente, informa que, em 15 dias, a pessoa receberá um manual de instruções sobre a troca.

Empresa continuará produzindo na China

Segundo a Mattel, até as 16h de ontem, cerca de cinco mil consumidores já haviam entrado em contato com a central de atendimento. Dos cerca de 850 mil brinquedos no Brasil, entre 650 mil e 700 mil devem estar nas casas dos consumidores.

- O nível de resposta do primeiro dia está muito bom - disse Ronaldo Schaffer, diretor da Mattel.

A empresa começou ontem a veicular comunicado sobre o recall em rede nacional de televisão, que deve ser transcrito em anúncios nos principais jornais e revistas do país a partir de hoje. A empresa resolveu criar um site em português, que deve entrar no ar ainda hoje.

A Mattel estima que suas perdas globais com o recall devem somar US$30 milhões, pouco perto do faturamento de US$5,5 bilhões. Schaffer informa que a empresa continuará produzindo brinquedos na China:

- O que houve foi um problema de desenho do produto.

Quem tem um produto a ser trocado deve entrar em contato com a Mattel pelo 0800-77 01207, de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, e aos sábados, das 9h às 15h. Ou pelo e-mail recall.brasil@mattel.com. No site http://service.mattel.com/br/recall/Brasil_Sku.pdf, é possível consultar modelos e procedimentos.