Título: Vice da PDVSA renuncia, diz TV venezuelana
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 16/08/2007, O Mundo, p. 29
Filho de Diego Uzcategui estaria no mesmo avião do empresário do escândalo da mala.
BUENOS AIRES. O assessor da presidência da estatal venezuelana de petróleo PDVSA, Diego Uzcategui, pediu demissão ontem, segundo a TV venezuelana Globovisión. O executivo ¿ cujo cargo equivale ao de vice-presidente ¿ é pai de Daniel Uzcategui, que, segundo jornais argentinos, estava no mesmo avião com empresário venezuelano Guido Alejandro Antonini Wilson quando este tentou entrar na Argentina com uma maleta com US$790 mil não declarados.
A notícia da demissão foi divulgada ao mesmo tempo em que novas informações sobre o escândalo da mala ¿ retida pela Polícia Federal argentina três dias antes da chegada do presidente Hugo Chávez a Buenos Aires, semana passada ¿ podem complicar o cenário para o governo do líder venezuelano. Ontem, o dirigente piqueteiro argentino Luis D¿Elia confirmou que importantíssimos atos políticos organizados pelo movimento em homenagem a Chávez foram financiados pelo governo venezuelano. Uma das hipóteses que circulam há vários dias em Buenos Aires e Caracas indica que o dinheiro na mala do empresário venezuelano Guido Alejandro Antonini Wilson estaria destinado a grupos sociais argentinos que receberiam dinheiro do governo chavista.
¿ Os atos de Mar del Plata (durante a Cúpula das Américas, em novembro de 2005) e do estádio Ferro (em março de 2007) foram financiados pelo chavismo, isso ninguém pode negar ¿ assegurou o líder piqueteiro, que está à frente da Federação de Terra e Habitação.
O gigantesco ato realizado no estádio Ferro coincidiu com a viagem do presidente americano, George W. Bush, a vários países latino-americanos e foi usado por Chávez para criticar a política da Casa Branca em relação à região. Depois de confessar, pela primeira vez, que o governo venezuelano está por trás da organização de eventos realizados na Argentina, D¿Elia disse desconhecer a origem do dinheiro de Antonini Wilson e negou qualquer vínculo dos piqueteiros com o escândalo da mala. No entanto, as declarações do líder piqueteiro ampliaram as suspeitas sobre a responsabilidade do governo chavista no caso que está sendo investigado pela Justiça argentina e pelo Ministério Público da Venezuela. Ontem, a juíza argentina Marta Novatti voltou a assumir o caso, por decisão da Câmara Penal Econômica.
Os que não parecem muito dispostos a aprofundar suas investigações são os governos Kirchner e Chávez. Longe de se preocuparem com um escândalo que já virou notícia em todos os países da região e até mesmo em outros continentes, funcionários de ambos os governos parecem estar brincando de esconde-esconde. Em Buenos Aires, o chefe de gabinete, Alberto Fernández, continua pedindo uma explicação à PDVSA. Ontem, Fernández disse que este ¿desgraçado episódio¿ não afetará o relacionamento bilateral. No entanto, seu colega de gabinete, o ministro do Planejamento, Julio De Vido, que já foi obrigado a afastar o ex-interventor do Ente Regulador de Estradas Claudio Uberti, por suposto vínculo com Wilson, disse estar esperando ¿novas medidas do governo venezuelano¿. Em Caracas, as autoridades insistem em dizer que funcionários da PDVSA que estavam no mesmo jatinho que o portador da mala não têm nada a ver com o escândalo.
¿ Está é uma montagem de setores que querem desestabilizar ¿ disse a presidente da Assembléia Nacional (o congresso venezuelano), Cilia Flores.
Empresário venezuelano teria ligações com a PDVSA
No entanto, informações publicadas por jornais argentinos, venezuelanos e uruguaios, confirmaram que nos últimos meses Wilson viajou várias vezes a Buenos Aires e Montevidéu, junto com Daniel Uzcategui. De acordo com jornalistas venezuelanos, Wilson foi visto muitas vezes no prédio onde fica o escritório do ministro de Energia e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez. O misterioso empresário venezuelano disse, através de seus advogados em Buenos Aires, que quer colaborar com a Justiça, mas até agora continua sem aparecer.(J.F.)