Título: Chávez apresenta suas reformas
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 16/08/2007, O Mundo, p. 29

Expectativa era de que presidente venezuelano propusesse reeleição indefinida para o cargo.

Em meio a gravíssimas denúncias de corrupção envolvendo funcionários da estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), o presidente Hugo Chávez apresentou ontem um polêmico projeto elaborado nos últimos sete meses pelo Conselho Presidencial para a Reforma Constitucional que, segundo o líder venezuelano, ¿abrirá outra etapa no processo de construção da Venezuela bolivariana e socialista¿ e dará mais poder ao povo. A grande maioria dos venezuelanos esperava ontem que Chávez anunciasse o aspecto mais questionado de sua proposta: a possibilidade de reeleição indefinida do presidente.

Segundo versões preliminares que circularam nas últimas semanas em Caracas, o líder bolivariano pretendia incluir a reeleição indefinida em sua proposta, que prevê a reforma de 33 artigos constitucionais e após ser discutida pela Assembléia Nacional (o Congresso venezuelano) será submetida a uma consulta popular, provavelmente em dezembro.

¿ Que termine de nascer o novo Estado e termine de morrer o velho Estado ¿ disse Chávez, reeleito em dezembro do ano passado para governar até 2013. ¿ Peço a todos que hoje (ontem) comecem o grande debate da reforma bolivariana, a reforma é do povo e não de Chávez ¿ declarou.

O presidente afirmou ainda esperar ¿nunca mais ter de pegar as armas¿ e por isso pediu paciência a seus seguidores para ¿continuar com a revolução¿.

¿ Me acusam de querer me eternizar no poder, concentrar os poderes, mas sabemos que não é assim. Os que se eternizaram no poder foram os oligarcas. Sempre foi a oligarquia venezuelana a que teve o poder na Venezuela e isso tem de mudar. O poder é do povo e não dos oligarcas ¿ afirmou Chávez, que chegou ontem às 20h (horário de Brasília) à Assembléia Nacional e, como de costume, pronunciou um discurso que se estendeu por várias horas.

Vamos convencer a maioria, diz Chávez

Em seus primeiros 17 meses de gestão, o presidente venezuelano, que assumiu pela primeira vez o poder em 1999, realizou quatro consultas populares, a principal delas para reformar a antiga Constituição do país. Chávez afirmou recentemente que a partir de agora os motores de sua revolução serão ¿a nova geometria do poder, a explosão do poder comunal e a Jornada Moral e Luzes (programa de educação dos valores socialistas). O presidente assegurou, ainda, que está se aproximando uma grande batalha, ¿durante a qual será desmontado um conjunto de artimanhas e falsidades que tem sido construído por jornais e canais de televisão¿.

¿ Vamos convencer a maioria dos venezuelanos sobre esta necessidade (em referência à reforma) e os benefícios imediatos que trará para a comunidade ¿ declarou.

Prevendo reações, o líder venezuelano disse que seus opositores iniciarão uma campanha para ¿desfigurar a letra e o espírito da proposta¿ de reforma.

¿ Como em 1999, Chávez quer reduzir os espaços da oposição e dar respaldo legal a sua intenção de continuar no poder. O resto são panos vermelhos para distrair os venezuelanos ¿ declarou o ex-congressista e dirigente opositor Gerardo Blyde.

Ontem, opositores do governo chavista realizaram uma manifestação em Caracas para exigir das autoridades do país o esclarecimento do escândalo desencadeado pela descoberta de uma mala com US$790 mil no aeroporto metropolitano de Buenos Aires, transportada no mesmo avião em que viajaram cinco funcionários da PDVSA. Os antichavistas pretendiam realizar uma grande marcha ontem, mas acabaram tendo de alterar seus planos pela presença de ônibus que impediram a passagem dos manifestantes. Segundo confirmou o dirigente do Comando Nacional pela Resistência, Oscar Pérez, no próximo sábado será realizada uma nova marcha.