Título: Parentes vivem dias de dor e incerteza
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 17/08/2007, O País, p. 3

SÃO PAULO. A dor não passa. Mesmo assim, a vida continua para as famílias das vítimas da tragédia de 17 de julho. Embora alguns estejam conformados, um mês depois muitos vivem em estado de confusão, sentimento que mistura a dor com as dúvidas sobre a assistência prestada às famílias e a indenização que devem receber.

O médico Maurício Pereira, de 50 anos, administrador de um hospital em Aracaju (SE), perdeu a filha Mariana, de 22, e não consegue mais trabalhar. Esta semana, recorreu a um colega psiquiatra para ser medicado porque estava muito irritado. Segundo ele, o sentimento é uma mistura de dor com irritação.

- A dor não passa. É contínua. É um vazio... Não dá para definir. E a irritação é com a maneira como as coisas vão acontecendo. Tenho uma irritação muito grande. E uma força muito grande de não parar. Vou cobrar do governo o tempo todo, porque ele é responsável. O presidente (Lula) indicou caras que não eram técnicos, esses caras fizeram conchavos com a companhia. Tenho dois culpados: uma companhia gananciosa e um governo corrupto, e vou cobrar isso - diz Maurício, que prepara ações judiciais contra a TAM e o governo.

O empresário Sheldon Feingold, de 71 anos, perdeu o genro, Marcelo Oliveira Pedreira, de 40, que era diretor da Siemens. Segundo ele, o sentimento é de vida arrasada.

- Estou arrasado. Minha vida está arrasada. A vida da minha filha está arrasada, a vida da minha mulher está acabada.

Ele e a mulher, médica, deixaram o trabalho em Recife para ficar ao lado da filha única, Michele, de 35 anos, que, abalada, não consegue voltar para casa.

- Ele era um filho para mim. Fez minha filha feliz e me deu esperança de realizar meu sonho de ser avô. Mas agora... E isso interessa à TAM? Eles não têm a mínima sensibilidade - critica.