Título: Parentes cobram de Jobim rigor na apuração
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 17/08/2007, O País, p. 8

Em reunião com os familiares das vítimas do acidente da TAM, ministro ouve pedidos de mudanças na Anac.

SÃO PAULO. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi pressionado ontem por um grupo de 175 parentes de vítimas do acidente do Airbus da TAM, que cobrou do governo mudanças imediatas na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e rigor na apuração do acidente que matou 199 pessoas, há um mês, no Aeroporto de Congonhas. Parentes denunciaram também que, nos documentos extra-oficiais que receberam com a transcrição da caixa-preta do avião, estariam "apagados" 23 minutos de diálogos. Jobim prometeu investigar e disse que começará a estudar mudanças na Anac na segunda-feira. Mas, depois de mais de duas horas de tensão na reunião a portas fechadas com os familiares, Jobim reclamou das dificuldades de resolver os problemas:

- Estamos encerrando, o mais tardar na terça-feira, a questão da composição da diretoria da Infraero. Amanhã (hoje) tem a reunião do Conselho da Infraero para a substituição de dois ou três diretores. Não é fácil você encontrar neste momento pessoas que se disponham a enfrentar o problema. Ou seja, as pessoas normalmente pretendem que os cargos públicos sejam cargos que possam ser exercidos em momentos de céu de brigadeiro.

Familiares expressaram revolta com governo e TAM

Há onze dias, Jobim trocou o então presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, pelo ex-presidente Agência Espacial Brasileira (AEB) Sérgio Gaudenzi, mas ainda não conseguiu completar a diretoria. Hoje, Jobim preside a reunião do conselho de administração da estatal, que tem como pauta a substituição dos diretores.

O encontro de ontem, em um hotel de São Paulo, foi marcado pela revolta das famílias. Não faltaram críticas à TAM, tampouco ao comportamento de membros do governo, como diretores da Anac, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, pelo gesto obsceno captado pela TV Globo; e a ministra Marta Suplicy, por dizer aos turistas para "relaxar e gozar".

Emocionadas, algumas pessoas chegaram a ser atendidas por duas pessoas de um posto médico, contratadas pela companhia aérea para acompanhar os parentes das vítimas.

- Reuniões dessa natureza, em cima de fato doloroso e da dor profunda que as pessoas têm, determinam aquilo que a gente chama de derramamento de catarse, derramamento de angústias, que é absolutamente compreensível. A manifestação de repreensões, de acusações é compreensível - disse Jobim.

O consultor Christofe Haddad sabe do que o ministro fala:

- Há excessos. A perda é muito grande. E é realmente pavoroso a gente se ver dentro disso - disse ele, que perdeu a filha Rebeca, de 14 anos.

Ontem, enquanto esperava para falar com Jobim, reunido com os outros familiares, ele analisou a transcrição da caixa-preta e viu que faltavam os 23 minutos.

- Recebemos os mesmos documentos que vocês, jornalistas, têm. E, antes do avião pousar, faltam 23 minutos de diálogos. Nós queremos saber onde está essa transcrição - disse Haddad, que foi comissário aéreo por cinco anos.

O governador José Serra (PSDB) deixou uma sala de aula com crianças para participar, de última hora, da reunião com os parentes das vítimas e o ministro Jobim. Também fizeram parte do encontro os secretários de estado da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e o da Justiça, Luiz Antonio Guimarães Marrey, mas Serra deixou o local sem dar entrevistas. Na reunião, ele colocou os órgãos de defesa do consumidor do Estado à disposição das famílias na questão da discussão sobre as indenizações.