Título: Laudo do INC deve confirmar renda para pensão
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 17/08/2007, O País, p. 11

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Primeiro laudo apontava que a renda estava descoberta, sem a indicação de origem.

Documento de perícia da PF conclui que Renan teve movimentação suficiente para pagar 418,8 mil a jornalista.

BRASÍLIA. A tendência do laudo que está prestes a ser concluído pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal é ser favorável ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mesmo sem conseguir comprovar a venda de aproximadamente 500 bois, o documento conclui que Renan teve renda suficiente para repassar R$418,8 mil à jornalista Mônica Veloso a título de pensão alimentícia, de março de 2004 até hoje. O laudo informa que, com a apresentação de novos documentos, Renan comprovou a origem de vários depósitos, no valor total de R$230 mil, feitos em sua conta no Banco do Brasil no início de 2004.

O primeiro laudo, concluído no início de julho, apontava que a renda estava descoberta, ou seja, sem a devida indicação de origem. Este era, até então, um dos principais buracos na contabilidade do senador. O problema, se persistisse, justificaria uma investigação sobre a evolução patrimonial de Renan. O laudo, que deverá ser entregue ao Conselho de Ética terça-feira, é considerado peça-chave no processo por quebra de decoro.

Venda de 500 bois continua sem comprovação

Embora ainda parciais, as conclusões dos peritos enfraquecem as principais acusações formuladas até o momento contra Renan em relação às despesas com a filha que teve fora do casamento. O Conselho de Ética encomendou o laudo a PF porque queria saber se a renda do senador seria ou não suficiente para bancar a pensão de R$12 mil à jornalista. O processo contra Renan tem como origem a denúncia de que os gastos com a filha eram bancados pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.

Mas a análise não está concluída. De hoje até segunda, os peritos vão comparar os extratos bancários apresentados por Mônica com a documentação de Renan. Querem saber se as datas e os valores dos saques em contas de Renan coincidem com as datas e os depósitos registrados nas contas da jornalista, mesmo que os valores não sejam exatamente iguais.

Os peritos concluíram que rasuras em algumas notas fiscais, apontadas no primeiro laudo, não se constituíram em fraudes. Os borrões seriam meros erros de caligrafia. Mas, mesmo com apresentação de novos documentos, Renan deixou sem explicação a venda de pelo menos 500 cabeças do rebanho de 2.200 bois que diz ter comercializado. O buraco equivale a aproximadamente R$630 mil. Em documentos enviado ao Conselho logo no início do escândalo, Renan sustenta que vendeu 2.200 bois entre 2005 e 2006. Mas as guias de transporte animal (GTAs) só indicam a saída de 1.700 cabeças das fazendas de Renan em Alagoas.

- O resultado do laudo dependerá da interpretação que os senadores derem às conclusões dos peritos- disse uma das autoridades que acompanha de perto o caso.