Título: Bispos da Renascer são condenados nos EUA
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 18/08/2007, O País, p. 14

Estevam e Sônia Hernandes terão de cumprir prisão em regime fechado, além de domiciliar, e pagar multa.

MIAMI, EUA. O juiz distrital da Corte do Sudeste da Flórida, Fred Moreno, condenou ontem o casal Estevam Hernandes e Sônia Haddad Hernandes, líderes da Igreja Renascer em Cristo, a cumprir pena de 140 dias de detenção numa penitenciária federal e mais cinco meses de prisão domiciliar. Eles pagarão multa de US$30 mil cada e sofreram confisco de US$56.637, apreendidos pela alfândega de Miami em janeiro, quando foram presos. Os "bispos" foram condenados por duas acusações: conspiração para cometer crime e contrabando de dinheiro de origem não-declarada.

Depois de cumprida a pena de prisão, eles deverão passar 14 meses em liberdade condicional nos EUA, monitorados pela polícia. Ambos perderam o direito ao "green card", visto de permanência por tempo indeterminado nos EUA, e serão deportados ao fim de dois anos. O casal deverá cumprir a pena de prisão de forma alternada: primeiro na penitenciária e depois em casa, e vice-versa, para que um possa ficar com os filhos enquanto o outro estiver preso.

O auditório estava repleto de parentes e seguidores da igreja. O juiz permitiu ao casal uma conversa reservada com os filhos e os advogados para decidir quem começaria a cumprir primeiro a detenção. A família decidiu que Estevam seria o primeiro, enquanto Sônia cumprirá a parte de prisão domiciliar da sentença. Ele deve se apresentar na penitenciária federal de Miami na segunda-feira, até o meio-dia. No mesmo dia, Sônia começa a cumprir prisão domiciliar.

No dia 21 de janeiro, ocorre o revezamento: Sônia vai para a cadeia e ele passa a cumprir pena em casa. A prisão domiciliar será restrita: os dois deverão reduzir os contatos a um telefone monitorado pela polícia.

Juiz cogitou pena maior por serem dois líderes religiosos

Os bispos foram novamente interrogados, mais uma vez declararam-se culpados e choraram ao receber a sentença.

- Será que eu não deveria ser mais exigente e aplicar pena mais dura a pessoas que são esclarecidas e exercem um ministério religioso? Se um casal de "bispos", que professa fé religiosa extremada, comete um crime, será que não deveria ser punido com mais rigor, já que conta com muitos meios e conhecimento para evitar infringir a lei? - perguntou o juiz ao casal.

Ele afirmou que não levaria em conta a prática religiosa do casal para atenuar e nem para agravar a sentença. Sônia e Estevam declararam arrependimento e pediram clemência:

- Eu não sabia exatamente quanto trazia de dinheiro. Espalhei o dinheiro pela mala, pela bolsa e dentro da Bíblia porque temia que pudesse ser roubada. Na chegada a Miami, fui maltratada pela polícia, duvidaram que meu filho fosse de fato meu filho e me tomaram tudo o que tinha. Quero minha vida de volta e estou profundamente arrependida do que fiz. Peço misericórdia neste julgamento - disse Sônia, aos prantos, ao juiz.

Seu marido se declarou arrependido e pediu clemência. Mencionou também o abaixo-assinado de um milhão de assinaturas que os adeptos da igreja recolheram no Brasil e nos EUA em prol da absolvição dos dois. O juiz disse que não levaria em conta nem o abaixo-assinado nem os processos por falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro a que os dois respondem no Brasil.

- Não pretendo investigar a origem do dinheiro. Deixarei isso para as autoridades brasileiras. Levarei em consideração o fato de que os dois entraram nos EUA com quantia de origem não-declarada, em valor superior ao permitido, e, quando interrogados pelas autoridades americanas, negaram responsabilidade - disse o juiz.

A sentença foi resultado de um acordo feito pelos advogados de defesa com o promotor para minimizar a pena, que seria determinada entre 10 e 16 meses de detenção. Os advogados de defesa pediram que o tempo cumprido pelo casal, desde janeiro, em prisão domiciliar, fosse descontado do total da pena, mas o juiz negou o pedido:

- A pena de prisão numa penitenciária não pode ser comparada ou substituída pela prisão domiciliar, numa confortável casa em Boca Raton.