Título: Silvinho hoje recebe ajuda de sócio de Dirceu
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 19/08/2007, O País, p. 4

Empresa de ex-secretário-geral do PT foi registrada no endereço de uma pertencente a Júlio César dos Santos.

SÃO PAULO. Desde maio do ano passado, quando foi convocado a depor na CPI dos Bingos, depois de dar uma entrevista reveladora ao GLOBO, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira reassumiu seu pacto de silêncio. Ao mesmo tempo, ganhou atenção e ajuda financeira de antigos amigos, mais notadamente do grupo de seu antigo chefe político, o ex-ministro José Dirceu. Em sua defesa, no Supremo Tribunal Federal (STF), dirá que não integrava de fato o núcleo de decisões do PT.

Em outubro de 2006, cinco meses após a entrevista, Silvinho, com a família, montou discreta empresa de eventos, com capital social de R$1 mil. A empresa, no entanto, foi registrada já de início no endereço de outra, a Central de Eventos e Produções, de Júlio César dos Santos, que, por sua vez, é sócio do ex-ministro na José Dirceu & Associados Ltda., conforme registro no 3º Ofício de Registro de Pessoa Jurídica de São Paulo.

Júlio César tem outras quatro empresas. Uma delas, a TGS Consultoria e Assessoria em Administração Ltda., registrada no ramo imobiliário, segundo a Junta Comercial de São Paulo, tem projetos patrocinados pela Petrobras. Um deles, encerrado no mês passado, é de R$674 mil, segundo divulgação da estatal.

No endereço registrado por Silvinho na Junta Comercial, o prédio de sete salas foi liberado para nova locação por R$4 mil mensais. Segundo pessoas que prestam serviço a Júlio e Silvinho, as empresas cresceram, ganharam "mais de 60 funcionários" e foram transferidas para a Rodovia Raposo Tavares, num prédio mais amplo.

Segundo reportagem da "Veja" de 4 de julho, Silvinho teria embolsado este ano pelo menos R$55 mil de verbas de patrocínio cultural da Petrobras, repassadas pela TGS de Júlio César, que teria faturado R$90 mil com o Projeto Cinemostra de Verão. O sócio de Dirceu diz que se trata apenas de grande amizade:

- Eu e Silvio somos amigos há mais de 20 anos. Eu o conheci comendo uma coxinha no bar da mãe dele, em Osasco. Tenho meus contratos e os repasso a quem quiser. Minhas empresas são particulares e não vejo irregularidade em ajudar um amigo. Ainda mais na situação em que ele ficou. Mas não tenho sociedade com o Silvio. Sou sócio do Zé Dirceu desde 1996. Eu e Dirceu atuamos com consultorias, nada a ver com minhas outras empresas, de eventos.

O empresário afirma que está processando "Veja" e já adianta que processará quem mais achar necessário:

- Às vezes preciso de ajuda em alguns contratos que firmo. Faço isso com ética e honestidade e sou muito tranqüilo com isso. Atuo em eventos há mais de dez anos, não tenho cargo público e posso participar de licitações. Estão me acusando de quê? De ter amigos? É uma maldade o que estão fazendo com eles (Silvio e Dirceu).

Defesa dirá que Silvinho não participava de decisões do PT

Júlio César disse ainda que mantém contratos com mais de 50 empresas para tocar seus projetos de eventos.

O GLOBO tentou falar com Silvinho e seus sócios, a mulher, Deborah Neistein, e o irmão, Ademir José Pereira. Ao longo da semana, eles atendiam aos telefonemas em casa, na empresa e os celulares, mas desligavam as ligações após a identificação da jornalista.

O advogado de Silvio, Gustavo Badaró, vai sustentar no STF que seu cliente não pertencia ao núcleo de decisões do PT.

- Silvio está longe de ter os quilates de José Dirceu, Delúbio (Soares) e José Genoino. Ele, na verdade, exercia um mandato-tampão de secretário-geral. Não há assinatura dele, nenhuma citação concreta. Não estamos dizendo que houve algum crime e imputando a culpa nos outros, mas apenas demonstraremos que Silvio não participava do núcleo de decisões do partido.

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