Título: Falta de confiança na Justiça e medo da polícia
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/08/2007, O País, p. 12
Polícia Federal, considerada exceção, é aprovada por causa das operações que prenderam políticos e empresários.
BRASÍLIA. A sensação de insegurança no país é agravada pela falta de confiança nas instituições encarregadas de proteger a população contra o crime. Pesquisa telefônica do Ibope revela que apenas 33% dos entrevistados acreditam na Justiça. Significa que dois em cada três brasileiros acima de 16 anos têm um pé atrás em relação ao Judiciário. A situação das polícias não é melhor: 26% dos entrevistados disseram temê-las. A exceção é a Polícia Federal, que se notabilizou nos últimos anos por prender políticos e empresários em grandes operações contra a corrupção.
A PF lidera o ranking de confiança na pesquisa, com índice de 69%. As polícias militares aparecem em segundo lugar, com 50%, seguidas pelas polícias civis, com 48%. A Justiça, a quem cabe decidir o destino dos presos, fica em último lugar.
Apesar da descrença, 70% disseram preferir a polícia mais próxima, contra 26% que gostariam de vê-la mais distante. O percentual de 26% é o mesmo de quem teme a polícia. O maior receio é ser confundido com um bandido (resposta de 42% de quem tem medo), seguido pelo temor de extorsão (25%) e de apanhar (16%).
- É sinal de que a polícia não está servindo a seu propósito. Imagine a mesma proporção de pessoas dizendo que sente medo e quer distância de médicos ou professores - diz Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Cano observa que o receio de ser confundido com um bandido é revelador de como são tratados os criminosos. Do contrário, um inocente não teria medo de ir a uma delegacia.
Delegado da PF rejeita idéia de marketing na corporação
A descrença na Justiça não surpreende o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Rodrigo Collaço. Ele aponta a morosidade dos julgamentos, agravada pelo foro privilegiado - que permite que autoridades sejam processadas apenas nos tribunais superiores -, como o principal obstáculo a ser superado. Collaço acredita que parte significativa da população desconhece o papel da Justiça nas investigações policiais, na autorização de prisões temporárias e de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico.
A pesquisa revela que, no Nordeste, 77% dos entrevistados dizem confiar na PF. Nas capitais, o índice é de 73%. Para o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, delegado Getúlio Bezerra Santos, a corporação colhe os resultados do bom trabalho que tem feito nos últimos anos. Ele rejeita a crítica de que a boa imagem da PF seria resultado de marketing:
- Não tem uma única bala de prata para matar o lobisomem. O marketing é o tamanho dos golpes e o nome dos envolvidos. Fraudes bilionárias de sonegação fiscal ou crimes envolvendo parlamentares são manchete em qualquer lugar do mundo.