Título: Campo de batalha
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 20/08/2007, O Globo, p. 2

Os desdobramentos da turbulência financeira internacional vão definir as condições nas quais os partidos vão enfrentar as eleições municipais do ano que vem. Se a crise for amena, a disputa ocorrerá num clima de crescimento da economia brasileira. O governo leva vantagem. Se a crise abalar a economia mundial, a disputa se dará num ambiente de incertezas. Melhor para a oposição.

A realidade objetiva, no entanto, não é a única variável a ser considerada. A postura e a atitude dos partidos nas eleições terão grande peso. Num país continental como o Brasil, em que os partidos não são fortes, há uma tendência à dispersão, em função da lógica política local, no interior dos dois blocos que disputam o poder: um comandado pelo PT e outro liderado pelo PSDB. Os partidos terão que remar contra essa tendência natural à dispersão para acumularem forças para as eleições presidenciais de 2010.

-As eleições municipais vão ser um ensaio das alianças que serão feitas em 2010 - diz o cientista político João Francisco Meira, do Instituto Vox Populi.

Embora tenha tido a maior votação, o PT saiu das eleições de 2004 com a crista baixa por ter perdido pleitos emblemáticos, como os de São Paulo e Porto Alegre. Embevecidos pela vitória do presidente Lula, os petistas se isolaram naquela disputa. No ano que vem, voltam a enfrentar o risco de isolamento. O Bloco de Esquerda (PSB-PDT-PCdoB), embalado pela candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), vai procurar construir um caminho próprio. A presença do PMDB no bloco governista contribuirá para isso, na medida em que esse poderá fazer movimentos ora em direção ao PT, ora em direção ao Bloco de Esquerda, ora em direção à oposição.

As eleições de 2004 serviram para a oposição acumular forças para a sucessão presidencial. O resultado eleitoral mostrou, pela primeira vez, a resistência ao governo petista de setores médios nos grandes centros urbanos. Naquele pleito, a oposição esteve razoavelmente unida. A expectativa para o ano que vem não é essa. O PSDB e o DEM dão mostras de divisão e de enfrentamento em eleições relevantes, como as de São Paulo e do Rio de Janeiro. A oposição parece embriagada com a presunção de que, inevitavelmente, chegará a sua vez na sucessão do presidente Lula.