Título: 'Hoje eu não vejo nada que possa condená-lo', diz relator do caso
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 21/08/2007, O País, p. 4

Para Almeida Lima, trabalho da polícia não é fundamental para processo.

BRASÍLIA. Antes mesmo de conhecer o resultado do laudo pericial da Polícia Federal sobre a documentação de defesa apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos três relatores do caso no Conselho de Ética, o também peemedebista Almeida Lima (SE), anunciou ontem que a perícia não será fundamental na formação de sua convicção. E afirmou que se tivesse que fazer seu relatório neste momento, o faria inocentando o colega.

- Hoje eu não vejo nada que possa condená-lo. Eu pediria a absolvição, sim. Se minha convicção coincidir com a dos outros relatores (Renato Casagrande e Marisa Serrano), farei o voto comum. Se eu não me convencer, farei um voto em separado. Tenho lido a documentação apresentada pelo Renan e não tenho encontrado nenhuma não-autenticidade, nenhuma incongruência entre as declarações e a documentação - disse Almeida Lima. - Pelo que vi até agora, não vislumbro nenhuma prova de quebra de decoro. Eventualmente, pode ter havido incorreções, erros de preenchimento de nota fiscais sem dolo. Notas frias não existem.

Ontem, quando os técnicos do Instituto de Criminalística da PF concluíam o laudo, a Secretaria da Agricultura de Alagoas resolveu encaminhar mais documentos, o que poderia atrasar a entrega da perícia, prevista para hoje, às 10h. O presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), chegou a comunicar que o laudo não seria mais entregue hoje, mas, no fim do dia, os policiais decidiram manter o prazo, com o compromisso de complementar informações, se for o caso.

Para os outros relatores, laudo prova quebra de decoro

Ao contrário de Almeida Lima, os outros dois relatores, Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES), devem recomendar a perda do mandato por quebra de decoro. Em conversas com outros senadores, os dois adiantaram que, pelo que já se conhece da perícia, o laudo é suficiente para pedir a punição. Almeida Lima se recusa a tomar como base a investigação da PF. Ele quer, por exemplo, ouvir o depoimento do jornalista da revista "Veja" Policarpo Júnior, autor de reportagens com as denúncias de que Renan teria usado recursos de um lobista para pagar despesas pessoais, e a jornalista Mônica Veloso, além de Renan.

Almeida Lima discorda também da tese de Marisa Serrano, de que o fato de Renan ter se utilizado de um lobista para pagar contas pessoais já configura quebra de decoro:

- Não serei um demagogo de dar um veredicto para satisfazer a opinião pública - garantiu o peemedebista.

Marisa e Casagrande não devem aceitar a tese de Renan de que foi "vítima" do frigorífico Mafrial, para o qual vendeu R$1,9 milhão. Renan antecipou a senadores que está levantando documentação para comprovar que vários fazendeiros de Alagoas teriam sido vítimas de recibos fraudados pelo frigorífico. Mas Casagrande deverá questionar justamente a autenticidade das operações com o Mafrial.

No meio da tarde, ao chegar de solenidade no Palácio do Planalto - onde sentou-se ao lado do presidente Lula e de ministros -, Renan voltou a se defender, dizendo que "quem tem documentos, apresenta, quem não tem, fala", numa referência indireta ao empresário João Lyra, que o tem denunciado, mas não apresentou prova concreta de sua suposta sociedade com o senador. Renan disse que está pronto para ir ao Conselho:

- Não sei qual é o calendário do Conselho, mas espero a oportunidade para mostrar a verdade que carrego comigo, que é do mesmo tamanho da inocência que eu trago todos os dias para o Senado.

Renan negou que tenha tratado da votação da CPMF com Lula e também qualquer relação entre a prorrogação do tributo e o julgamento de seu caso:

- A CPMF só chega ao Senado em outubro, e meu processo nada tem a ver com a decisão dos meus pares. Não vou cobrar apoio de ninguém.