Título: Jefferson responderá por corrupção e lavagem
Autor: Brígido, Carolina e Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 28/08/2007, O País, p. 5

Deputado cassado apontou existência de mensalão e não escapou de processo no STF, já que recebeu dinheiro do PT.

BRASÍLIA. O deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que em 2005 denunciou o pagamento de propina pelo governo a parlamentares em troca de apoio político, foi transformado ontem em réu no processo do mensalão. Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra o petebista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Outros dois integrantes do PTB foram processados: o ex-tesoureiro informal Emerson Palmieri e o ex-deputado Romeu Queiroz (MG).

O ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, atual prefeito de Uberlândia (MG), à época integrante do PL e hoje no PMDB, virou réu por crime de corrupção ativa, sob acusação de envolvimento no repasse de recursos aos petebistas.

Segundo o Ministério Público Federal, Jefferson, Queiroz e o então presidente do PTB, ex-deputado José Carlos Martinez, morto em 2003, teriam recebido recursos indevidos. O grupo teria conhecimento da origem supostamente criminosa do dinheiro. Jefferson, presidente do PTB, confirmou em depoimento o repasse de R$1 milhão do PT a Martinez, em outubro de 2003. Ao todo, o PTB teria sido beneficiado com R$4 milhões. O relator, ministro Joaquim Barbosa, considerou improvável que o dinheiro tenha sido utilizado exclusivamente no pagamento de despesas eleitorais, como alegam os investigados.

- É emblemático o fato de Roberto Jefferson confirmar o recebimento de R$4 milhões e se recusar a informar quem foram os beneficiados. O recebimento de enormes quantias em dinheiro do PT pelo PTB de origem obscura e destino ignorado não se justifica para o pagamento de despesas de campanha - disse o relator.

Palmieri e Queiroz responderão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Já Adauto, por corrupção ativa. Ele teria intermediado, junto ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o repasse do dinheiro.

Primeiro repasse, de R$50 mil, seria de julho de 2003

No mesmo capítulo da denúncia, Antonio Fernando apontou como pagadores da propina o chamado núcleo central da "organização criminosa": o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, Delúbio, o ex-secretário-geral Silvio Pereira e o ex-presidente do PT José Genoino. Também foram apontados como corruptores o núcleo publicitário do esquema, composto pelo empresário Marcos Valério e seus aliados.

Conforme a denúncia, os petebistas que teriam recebido o dinheiro "engendraram mecanismo para dissimular a origem, natureza e destino dos valores". O primeiro repasse do PT ao PTB teria sido feito em julho de 2003, no valor de R$50 mil. O destinatário final teria sido Palmieri. Roberto Jefferson teria sido o responsável pela negociação direta com o PT.