Título: Nem pão de queijo diminui constrangimento
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 28/08/2007, O País, p. 10

Em depoimento de presidente do Senado a relatores, perito respondeu a questões delicadas

BRASÍLIA. No depoimento reservado aos relatores do Conselho de Ética, semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve uma acolhida cordial, de camaradagem. Foi recebido no gabinete do presidente do colegiado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), com café e pães de queijo e, entre um quitute e outro, complementava aqui e ali versões sustentadas pelo perito contábil José João Appel Matos, o mesmo que deu um jeito nas contas do empresário Marcos Valério, no inquérito do mensalão.

As versões de Renan e Appel não encontraram resistência na relatora Marisa Serrano (PSDB-MS). Coube a Renato Casagrande (PSB-ES) a tarefa de fazer as mais duras contestações sobre os pontos falhos na contabilidade, apontados pela perícia da Polícia Federal. As intervenções de Quintanilha e do terceiro relator, Almeida Lima (PMDB-SE) , deram-se quase que unicamente para corroborar ou detalhar a defesa.

Renan começou com uma longa preleção - falou em Deus, seu calvário e apreço pela democracia. Logo depois, chegaram os pães de queijo.

- Tem gente que não é mineiro mas gosta de um pãozinho de queijo - anunciou Quintanilha.

- O prestígio não diminuiu não! - agradeceu Renan.

Mas Marisa se encarregou de dizer que os pães eram oferecidos ali em todas as reuniões.

- Pensei que fosse só porque o presidente está aqui - brincou Appel.

Preocupado com o rumo da conversa, Casagrande interveio:

- Tudo está sendo gravado, é bom que...

- Essa alegria toda dele eu não sei se vai durar muito. Eu vou mandar depois a conta (risos) - encerra Quintanilha.

Renan delegou ao contador os detalhes técnicos. Quando Casagrande lhe dirigia uma pergunta mais complicada, começava e imediatamente era cortado por Appel. Em certo momento, todos manifestaram o constrangimento de interrogar o colega.

- Ainda mais quando é o presidente... - comentou Marisa.

Appel sustentou que as incongruências sobre os negócios e Renan com gado não faziam diferença para efeito de Imposto de Renda. Mas não convenceu Casagrande, que lembrou que a questão tributária não estava em apuração, mas a capacidade de Renan de arcar com despesas pessoais. O ponto mais questionado por Casagrande foi o dos supostos empréstimos feitos por Renan junto ao amigo Tito Uchôa, dono da Costa Dourada Veículos, e nunca pagos. Renan e Appel alegaram que mensalmente um motorista ou empregada sacavam quantias de até R$4.500 mil. E que nunca declararam ao Imposto de Renda porque parte do dinheiro custeava despesas de Mônica Veloso, uma relação ainda sigilosa.

- Havia uma intenção de manter esse assunto reservado: Mônica, filha... e esses pagamentos terminaram criando a necessidade de fazer mais uma dívida - disse Appel. (M.L.)