Título: Trabalhadores protestam contra invasão do MST
Autor:
Fonte: O Globo, 28/08/2007, O País, p. 11

Funcionários de fazenda na Bahia fecham ponte para defender plantação; terras são de traficante colombiano preso.

JUAZEIRO, BA. Em protesto contra a invasão de uma fazenda da empresa Mariad Exportações e Importações, no Norte da Bahia, por cerca de 300 integrantes do MST na noite de domingo, cerca de 1.500 funcionários da fazenda interditaram ontem cedo a Ponte Presidente Dutra, sobre o Rio São Francisco, na BR-116, entre o município baiano de Juazeiro e Petrolina (PE). Os trabalhadores acusam os sem-terra de destruir plantações e matar carneiros.

Os manifestantes liberaram a ponte às 13h45m, depois de quase quatro horas de paralisação do tráfego, o que causou engarrafamento de 12 quilômetros nos dois estados. Foram, então, à Delegacia Regional do Trabalho e depois ao Ministério Público, de onde devem acompanhar as negociações entre PF e MST. Os trabalhadores da Mariad reclamaram que a polícia não retirou os sem-terra da fazenda.

O supervisor da Mariad James Medrado disse que a situação é insustentável e que os funcionários querem trabalhar.

- Estamos esperando as decisões da Justiça, mas a situação tem que ser resolvida com rapidez e o MST tem que sair de lá.

- É inconcebível ver todo o seu trabalho ser destruído pelo MST - dizia Francinaldo Ferreira, do setor de uvas. - Quem consegue trabalhar do lado de uma pessoa estranha com um facão nas mãos?

Empresa era fachada para tráfico de drogas

O delegado da PF em Juazeiro, Alexandre Lucena, disse que não pode fazer nada sem uma determinação da Justiça.

A fazenda está sem administrador desde a semana passada, quando o dono da Mariad, o colombiano Gustavo Duran Bautista, foi preso no Uruguai com 485 quilos de cocaína. Ele é ligado ao traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, preso no início do mês em São Paulo. A empresa era usada como fachada para o tráfico de drogas.

Outro crime que intriga a polícia foi o assalto que a sede da fazenda da Mariad sofreu, também no domingo, poucas horas antes da invasão das terras pelo MST. Um grupo de dez pessoas teria assaltado a sede e roubado produtos agrícolas, segundo funcionários da empresa.

Embora o MST não tenha impedido a entrada dos funcionários, não houve trabalho ontem, pois todos afirmam não querer trabalhar com "toda essa gente mal-encarada e armada de facões e foices". Os funcionários da Mariad afirmam a fazenda é produtiva e que os sem terra depredaram o patrimônio.

- Estão destruindo tudo, arrancaram e destruíram uvas e mangas, mataram ovelhas para fazer churrasco, tomaram banho na piscina da casa do dono - denunciou um trabalhador que preferiu não se identificar.

A fazenda tem 203 hectares, e cultiva uva, manga e melão, emprega mais de duas mil pessoas e exporta para a Europa e EUA. A rede de tráfico de cocaína funcionava com a droga trazida da Colômbia de avião e oculta em fundos falsos de caixas de frutas, exportadas para a Europa.

O MST justifica a invasão com a possibilidade de expropriação da terra pela Justiça. Com a prisão da administradora da fazenda, Ana Lúcia de Araújo Lima Lacerda, que já foi transferida para São Paulo, onde foi aberto o processo, a fazenda ficou sem comando.

Cristina Laura, da Agência A Tarde