Título: País resistirá à turbulência, afirmam bancos
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 28/08/2007, Economia, p. 21

Para IIF, instabilidade nos mercados continuará, mas um grupo de emergentes mostra solidez.

WASHINGTON. Os problemas no mercado hipotecário dos Estados Unidos ainda persistirão por mais algum tempo. Eles provavelmente elevarão ainda mais o índice de calotes, que em julho já atingira o recorde de 13,7%, e isso continuará influenciando negativamente o mercado de crédito em geral. No entanto, o Brasil e um pequeno grupo de outros países emergentes - entre eles México, Coréia do Sul, Rússia, Turquia e Tailândia - deverão continuar resistindo solidamente aos impactos dessa crise.

Essa é a conclusão de uma avaliação divulgada ontem em Washington pelo Institute of International Finance (IIF), que reúne os 350 maiores bancos do mundo. No entanto, a entidade alertou os governos daqueles países a não deixarem de manter a sua atual prudência "pois os ventos podem continuar fortes", como disse Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.

- A capacidade de recuperação não deve ser confundida com imunidade - ressaltou.

Organismo vê crescimento menor em 0,5 ponto a longo prazo

A conseqüência mais notável até agora, seis semanas depois da explosão da bolha de crédito, é - segundo os banqueiros - uma "aguda reversão" do apetite de investidores pelo risco. Ou seja: uma tendência à retração dos investimentos.

Isso, no entanto, tenderia a afetar mais os países de economia mais frágil, como, por exemplo, o Equador, e aqueles que ainda não conseguiram criar uma estrutura confiável. A Argentina foi citada por eles como o grande exemplo dessa segunda categoria.

- O que acontece é que, freqüentemente, confundimos tumulto financeiro com tumulto econômico. Nem sempre as crises financeiras chegam a causar estragos acentuados em economias que vêm sendo bem administradas, como a do Brasil - disse Philip Suttle, diretor de Análises Econômicas Globais do IIF.

Ao seu lado, Dallara acentuou a necessidade de se diferenciar os destinos de investimentos:

- Não devemos pintar todo mundo com o mesmo pincel.

Ambos disseram que o IIF e outras instituições do mercado não dispõem, ainda, de uma radiografia precisa da situação. De acordo com os dados disponíveis até o momento, a perspectiva seria de haver uma moderação na atual crise, ainda que seus reflexos - em especial nos países do Primeiro Mundo - possam, a médio e longo prazos, vir a causar uma redução (que, calculam, seria de 0,5 ponto percentual) nas economias dos países emergentes.

- Sabíamos que estava chegando o momento de uma correção nos mercados. Ela era necessária. Havia um excesso global de liquidez, que aumentou a falta de diferenciação por parte dos investidores. Eles saíram à caça de maiores margens de lucros, sem procurar distinguir onde aplicavam o dinheiro. E se deram mal - disse Dallara, reconhecendo que os próprios bancos, na sede de lucros, cometeram esse equívoco.

O que o IIF não imaginava, segundo ele, era que a crise dos créditos hipotecários de alto risco (subprime) nos EUA coincidisse com o que definiu como "uma pobre gestão dos investimentos" em geral.

- Essa combinação explosiva criou uma ansiedade enorme no mercado, provocada, em grande parte, por bancos que tinham empurrado dinheiro para onde este jamais deveria ir - reconheceu Dallara.

Brasil seria "exemplo de transparência" para bancos

Segundo Dallara, o fluxo constante de capitais para o Brasil tem refletido "os sólidos fundamentos da economia do país e a confiança nele". Também é um sinal da atração pelas taxas de juros altas "e o incentivo adicional da taxa de câmbio" - que estimula as aplicações em reais, uma vez que a moeda nacional teve uma apreciação de 15% nos primeiros sete meses deste ano.

- Não vemos sinais de uma reversão desse panorama. Além do mais, o Brasil tem um sistema bancário muito forte, e os padrões de regulamentação realmente melhoraram a força fundamental do mercado interno. Talvez os bancos dos EUA e da Europa possam ter, no Brasil, um exemplo inclusive de transparência - disse Dallara.

BOLSA DE SÃO PAULO TEM SÉTIMA ALTA CONSECUTIVA, na página 22