Título: Crise põe freio nos juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 28/08/2007, Economia, p. 21

Taxas cobradas de pessoas físicas interrompem movimento de queda registrado este ano.

Acrise financeira que afetou os mercados mundiais nas últimas semanas, inclusive o Brasil, foi suficiente para interromper a trajetória de queda das taxas de juros na primeira quinzena de agosto, movimento que se mantinha desde janeiro passado. De acordo com dados preliminares do Banco Central (BC), isso se deve ao aumento do custo de captação das instituições financeiras, compensado pela redução do spread (diferença entre a taxa de captação e a efetivamente cobrada) que houve no período.

- Ainda não dá para afirmar que esse ritmo se manterá. Quinze dias é muito pouco para dizer o que vai acontecer no mês todo - argumentou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Segundo ele, as taxas médias para pessoas físicas foram as que mais sofreram os impactos da crise financeira. Entre 1º e 15 de agosto, o custo de captação para os bancos nesse segmento subiu 0,4 ponto percentual, basicamente indexado aos juros prefixados. Estes são mais sensíveis às taxas futuras, que avançaram devido ao nervosismo dos investidores. O ritmo só não se refletiu na taxa final para o consumidor porque o spread recuou na mesma intensidade.

Com isso, na primeira quinzena deste mês, a taxa média para a pessoa física estava estável em 47% ao ano em relação a julho. Frente a junho, houve queda de 0,8 ponto percentual. Para as empresas, os juros se mantiveram em agosto (23% ao ano) sobre julho porque nem o spread (12,1 ponto percentual) nem o custo de captação se mexeram. Isso ocorreu porque, para pessoas jurídicas, as linhas de financiamento podem se basear em outros indicadores, como taxas pós-fixadas.

- Os spreads para pessoa física (36,3 pontos percentuais) têm mais espaço para recuar e, por isso, caíram mais agora - disse Lopes.

O CDC para veículos teve a maior redução de juros em julho, passando de 29,4% para 28,7% ao ano, enquanto o crédito pessoal recuou de 51,1% para 50,6%.

Expectativa de corte menor na Selic: 0,25

O vice-presidente da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), Miguel de Oliveira, não acredita, no entanto, que essa parada persista até o fim do mês. Ele lembrou que, além de a crise ter começado a perder força na semana passada, a tendência da Selic ainda é de queda. Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), daqui a sete dias, o mercado aposta em redução de 0,25 ponto percentual - depois de dois cortes consecutivos de 0,5 ponto - na taxa básica, que passaria a 11,25% ao ano. Para o fim do ano, economistas ouvidos no boletim Focus, do BC, projetam Selic de 10,75%.

O mercado ainda elevou a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país). Para este ano, prevê expansão de 4,64% (0,2 ponto a mais que o Focus anterior) e, para 2008, de 4,35% para 4,40%. A projeção para a inflação pelo IPCA este ano subiu de 3,77% para 3,86%. Já para o câmbio, ficou estável em R$1,90.