Título: Ainda hoje, PT atribui crise à disputa eleitoral
Autor: Gois, Chico de e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 22/08/2007, O País, p. 4

MENSALEIROS NO TRIBUNAL: Partido de Lula admite o baque, mas diz que política social levou à vitória nas urnas.

Para oposição, Supremo terá chance de reparar o sentimento de impunidade deixado com absolvições na Câmara.

BRASÍLIA. Às vésperas de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se aceita ou não a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que aponta uma quadrilha de 40 pessoas vinculadas ao esquema do mensalão, o PT considera que o episódio que mobilizou a opinião pública entre 2005 e 2006 ficou circunscrito a uma disputa eleitoral, e que a vitória do partido nas urnas, em 2006, justifica esse pensamento. Já a oposição critica o PT por ter ficado mais pragmático e aposta numa decisão dura do Supremo sobre o escândalo.

Para parlamentares da oposição, o STF poderá ter a oportunidade de reparar o sentimento de impunidade que tomou conta de parte da população depois que muitos dos mensaleiros foram absolvidos no plenário da Câmara e outros renunciaram para escapar da cassação e da perda dos direitos políticos.

Para o PT, que admite que a crise atingiu a legenda naquele período, a população mais pobre sentiu o efeito das políticas sociais do governo - sobretudo o Bolsa Família - e preferiu ficar com o que tinha, garantindo a vitória do partido e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), criticou as ações oferecidas pelo Ministério Público, anteontem, contra petistas para tentar reaver R$55 milhões que teriam sido desviados do esquema.

- Essas denúncias são claramente para pressionar o STF.

Para Mercadante, governo mudou após a crise

Para Aloizio Mercadante (PT-SP), que à época da crise era líder do governo no Senado, o episódio chamuscou o PT. Mas lembra que o partido foi o mais votado nas eleições:

- Apesar dos erros cometidos, o governo mudou muito, e para melhor, a vida do povo. O partido teve de refletir com profundidade e trabalhou para superar esta fase difícil.

Questionado por que, então, o PT não puniu os mensaleiros, ele preferiu não comentar:

- Vamos esperar a decisão do STF - disse.

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que chegou a irritar o partido por causa de sua atuação independente durante a CPI dos Correios, reflete agora sobre o assunto como um advogado de defesa:

- Cada caso tem que ser analisado individualmente. Na minha opinião, há casos que devem ser abertos e outros, não. A CPI levantou as provas, cabe ao STF fazer essa triagem. Todos os que cometeram crimes devem responder por eles, mas não havendo indícios, a ação penal não deve ser aberta.

A oposição, porém, acredita que o STF vai dar uma satisfação à opinião pública, acolhendo as denúncias e mostrando que a atuação da CPI não se pautou por questões partidárias.

- Fui interpelado várias vezes por pessoas nas ruas me cobrando os resultados da CPI. A hora é agora, porque a CPI fez o seu papel, mas não pode punir. Quem pune é o Poder Judiciário. Esse é um momento histórico para o STF reverter o clima negativo de impunidade e mostrar que os poderosos não podem transgredir a lei - disse o deputado ACM Neto (DEM-BA).

"Acredito que o STF vai abrir processo contra todos"

O líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS), disse que a expectativa é de que o STF abra processo contra todos os listados pela CPI e pelo Ministério Público. Segundo ele a CPI trabalhou 11 meses, e o MP, outros sete, em segredo de Justiça, e as ambos chegaram à mesma conclusão:

- Duas instituições chegaram à mesma conclusão. Por que o Supremo vai negar a verdade? Acredito que vai abrir processo contra todos.

- Espero que o Supremo aceite a denúncia contra os 40, mas vai faltar o chefe, o comandante - disse o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), referindo-se ao presidente Lula.

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o mensalão dividiu o país e há uma camada da população "impenetrável, complacente com a corrupção":

- Há uma parte anestesiada pelos instrumentos utilizados pelo governo - diz, em referência indireta ao Bolsa Família.

O senador Jefferson Péres (PDT-AM) critica o PT:

- Não fala sobre a ética. Deixou de ser tema o problema da moralidade pública. O que há é um pragmatismo cínico, para não chamar de coisa pior.