Título: Discurso ensaiado
Autor: Nunes, Vicente; Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2009, Economia - Tema do Dia, p. 11

Surpreendido pela queda acima do esperado, governo acredita em forte recuperação no segundo semestre

Em um dia tomado de nervosismo, a equipe econômica correu para alinhar o discurso e tentar minimizar o impacto da forte desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado e ressaltar que a economia brasileira não vai entrar em recessão. Até porque, alegaram, já há sinais este ano de recuperação da atividade. A queda da produção surpreendeu não só os analistas do mercado financeiro, mas também os epecialistas do próprio governo.

Ontem pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado sobre desempenho ¿ruim¿ da economia pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e cobrou agilidade nas decisões e esforço redobrado para que os efeitos das medidas adotadas pelo governo apareçam com maior rapidez.

Atordoado com a desaceleração acima do esperado da economia brasileira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, primeiro evitou a imprensa, entrando pela garagem do Ministério. Mas, em seguida convocou vários de seus secretários ¿ Nelson Machado (Executivo), Nelson Barbosa (Política Econômica), Bernard Appy (Reforma Econômico-Fiscais) e Lina Maria Vieira (Receita Federal) ¿ para discutir a retração de 3,6% no PIB no último trimestre em relação aos três meses anteriores. É que os dados negativos vão obrigar o governo a rever todas as previsões em relação a arrecadação, cortes no orçamento e superávit primário (economia que o governo faz para pagamento de juros da dívida pública). As novas estimativas serão conhecidas no próximo dia 20.

Independentemente de qualquer coisa, Mantega admitiu que, com o resultado do último trimestre, ¿é muito difícil¿ que o país atinja a meta de crescer 4% neste ano. A possibilidade de recessão, no entanto, está descartada. ¿Deveremos ter um primeiro trimestre com um desempenho melhor do que o último trimestre de 2008, o que nos deixa distante de um possível problema de déficit técnico¿, afirmou o ministro, que utilizou a palavra déficit para evitar dizer recessão. ¿Em 2009, a economia brasileira deverá ter crescimento positivo. Mesmo os mais pessimistas falam em crescimento de 1% e 1,5%. Acredito que poderemos ter até mais que isso¿, disse. Mantega trabalha com um cenário de aceleração do crescimento apenas no segundo semestre, quando as medidas adotadas pelo governo deverão surtir efeito.

Segundo semestre Para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já era esperado que o resultado do PIB no último trimestre retratasse o forte choque do crédito e a proliferação de expectativas negativas. ¿Nós consideramos que o primeiro trimestre de 2009 vai ser um pouco melhor e estamos projetando para o segundo semestre de 2009 uma melhora do crescimento¿, afirmou.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, considerou a queda do PIB expressiva, mas reforçou que deve haver uma recuperação a partir de agora. ¿A partir de março, começaram a surgir sinais de melhora em vários setores¿, disse o ministro, que estima uma expansão entre 2% e 2,5% do PIB neste ano. Já o ministro do Planejamento considerou o desempenho da economia no final de 2008 como ¿ruim¿, mas ainda acredita em um número bom para 2009.