Título: BB prepara contra-ataque
Autor: Paul, Gustavo e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/08/2007, Economia, p. 23

Impedida de comprar bancos e ameaçada por rivais, instituição quer manter liderança.

O Banco do Brasil (BB) vive um momento crucial para se manter como a maior instituição financeira do país, posição que ocupa desde sua criação, em 1808. Analistas do mercado e a equipe econômica do governo entendem que a possibilidade de o banco perder a liderança está se tornando cada vez mais real. Bradesco e Itaú, dois gigantes que somam quase R$550 bilhões em ativos, apresentam taxas de crescimento maiores e estão bem perto de atropelar o BB. A razão é simples: enquanto os bancos privados crescem com a aquisição de concorrentes, a instituição, por ser pública, está impedida de ir às compras. Por isso, nos últimos meses, a direção do banco estuda estratégias para evitar que, em no máximo dois anos, o BB perca a liderança.

Para o governo, o primeiro lugar é estratégico: garante musculatura para manter tarifas e juros mais baixos, ditando o ritmo do mercado financeiro, como um regulador informal. Além disso, é considerado politicamente fundamental para um governo que não esconde a preferência pela presença estatal na economia. Perder o posto seria um desastre para a atual administração petista e munição poderosa nas próximas eleições.

- A possibilidade de perdermos a liderança está no radar. Mas o BB tem instrumentos e coisas que não faz ainda e vai começar a fazer. Isso nos dará uma capacidade de crescimento muito grande - garantiu ao GLOBO o presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto.

Sonho de ser como a Petrobras

A ação passa prioritariamente pelo crescimento orgânico, ou seja, com as próprias pernas. Nesse rol está a entrada no mercado imobiliário e o incremento no financiamento de bens duráveis. Além disso, tem projetos bem adiantados para criar sua própria financeira, voltada exclusivamente para aquisição de veículos. Segundo fontes, isso deve ocorrer em parceria com o setor privado, para que não seja preciso o aval do Congresso.

Este é o maior obstáculo: a dependência de autorização parlamentar para criação de subsidiárias ou compra de outros bancos. A legislação impede, por exemplo, que o BB tenha uma seguradora própria.

- Meu desejo é que o banco tenha um dia o mesmo tratamento que é dado pela legislação à Petrobras, que nos últimos tempos tem comprado ativos - disse o vice-presidente de Finanças do BB, Aldo Luiz Mendes.

Ainda assim, há estudos sobre a incorporação - e não aquisição - do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), que foi federalizado. A direção do BB não toca no assunto, mas analistas listam como possíveis alvos bancos estaduais, como o BRB, do Distrito Federal. Com novos clientes e a folha de pagamento dos governos estaduais, o BB teria uma injeção de ativos. A médio prazo, até a fusão com a Caixa Econômica Federal é citada por analistas.

Outro obstáculo é a falta de agilidade em relação aos bancos privados. O BB está submetido às amarras da lei 8.666, que trata das licitações públicas, restringindo a compra de serviços e equipamentos.

Os analistas apontam ainda o forte viés político no banco como entrave. Desde que o antigo presidente Rossano Maranhão assumiu a instituição, em 2004, o BB se esforça para tentar se blindar do uso político de seus cargos, indicando para diretores e vice-presidentes funcionários de carreira e sem ligações partidárias.

Este ano, porém, o PMDB conseguiu nomear vice-presidente de Governo o ex-senador de Goiás Maguito Vilela, responsável pela gestão privada de fundos de pensão e pelo relacionamento comercial com o setor público. Em tributos federais, são R$120 bilhões ao ano passando pelo político.

O PT não ficou de fora e comanda cinco das nove vice-presidências. Para a direção, esse não é um problema:

- Ser estatal faz parte de nosso negócio. E temos feito um bom trabalho, crescendo sempre. Temos as melhores práticas de controle interno e um conselho de administração atuante - diz Lima Neto.

A blindagem, porém, não foi suficiente para evitar arranhões na imagem da instituição em 2005, quando o então diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, funcionário de carreira do banco ligado ao PT, envolveu-se no escândalo do mensalão.

O desafio do banco fica evidente pelos últimos números. O balanço semestral mostra que seu ativo total chegou a R$332,9 bilhões - alta de 21,6% em junho, ante igual período de 2006. Enquanto isso, o Itaú avançou 48,1%, com a compra do BankBoston no Brasil, e o Bradesco, 24,7%, chegando a R$290,5 bilhões. Quando se fala em patrimônio líquido, o BB já perde para os concorrentes.

A Caixa Econômica Federal planeja incorporar alguma instituição financeira como forma de elevar seu volume de ativos e tentar se manter entre os quatro maiores bancos do país. O tema ainda é tratado sob sigilo pela direção do banco, mas o vice-presidente de Finanças da instituição, Márcio Percival, admite que há estudos. Qualquer movimento, porém, terá que passar pelo Congresso. Para obter resultados mais imediatos e tornar a gestão do banco mais ágil, outras medidas estão em andamento.

- Podemos fazer incorporações (de instituições). Estamos preocupados com a alta concentração dos bancos privados, e acompanhamos as estratégias dos concorrentes. Recentemente reestruturamos nosso modelo de gestão - disse Percival.