Título: Enquadrando o PT
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 23/08/2007, O Globo, p. 2

O presidente Lula começou pelos de casa, dizendo aos cinco governadores do PT, em jantar na segunda-feira, que não há hipótese de compartilhamento das receitas da CPMF com os estados. Ao tucano Aécio Neves, teria dito o mesmo ontem, mas deixando a porta aberta para a negociação de outras compensações aos estados. De humor recuperado, esteve falante com os petistas, mas fez dois longos silêncios: quando foram mencionados o julgamento de ontem no STF, sobre o caso mensalão, e a situação do senador Renan Calheiros.

Empossados em janeiro, os cinco governadores reclamavam de até hoje não terem tido um encontro as sós com Lula. Desistiram de esperar que a direção do PT também os chamasse para conversar sobre suas administrações ou a implementação possível dos ideais programáticos. Nada, a antiga organicidade já não funciona. De Lula, Marcelo Déda (SE) e Jaques Wagner (BA) cobraram o encontro há 15 dias, que finalmente aconteceu, mas não a sós. Além dos outros três - Binho Marques (AC), Ana Julia (PA) e Wellington Dias (PI) -, participaram do jantar os ministros Dilma Rousseff e Franklin Martins, mais o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, o secretário Gilberto Carvalho e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Foi Chinaglia quem melhor resumiu, na saída, o convescote do Alvorada.

- Foi o de sempre. A gente sai podendo concluir qualquer coisa.

E a conclusão que mais interessava aos petistas era sobre o que Lula anda pensando sobre a sucessão de 2010. Ele encarou o tema, mas exercitando o talento para confundir. Recomendou que o PT busque a maior harmonia possível com a coalizão nas eleições de 2008, evitando o canibalismo, como em 2004. Aconselhou uma reaproximação com os partidos de esquerda aliados que, após a derrota de Aldo Rebelo por Chinaglia em fevereiro, na disputa pela presidência da Câmara, formaram um bloco à parte, embora apoiando Lula: PSB, PCdoB e PDT. A coalizão unida é o caminho para a preservação do poder em 2010, disse Lula aos petistas.

Mas, quando ele fala em preservar o poder, é para o lulismo, o campo partidário em que ele reina, por ora como palmeira solitária, onde nada se destaca. O PT está pensando no PT. Em algumas passagens, Lula dava a impressão de que o seu candidato terá de ser um petista. E, por isso, teria defendido um investimento mais forte na reestruturação do partido, avaliando nomes para presidi-lo. Elogiou Ricardo Berzoini, que deve ser candidato a novo mandato, mencionou Olívio Dutra, que não significaria renovação, e Marco Aurélio Garcia, que não teria disponibilidade. Mas falou, de passagem e de forma tão oblíqua que os petistas nem replicaram, sobre a hipótese de o candidato ser de outro partido da coalizão, como Ciro Gomes. E Ciro, por ter sabido disso, é que estava ontem feliz como um colibri.

Lula está se colocando à frente do mutirão pela CPMF: enquadrou os governadores petistas, dobrou a resistência de Palocci para que fosse indicado relator da matéria e vem conversando pessoalmente com os governadores tucanos Serra e Aécio, com quem voltou a tratar do assunto ontem.