Título: França apóia Brasil em ONU e G-8
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Fonte: O Globo, 28/08/2007, O Mundo, p. 27

Sarkozy defende inclusão do país em grupo dos ricos com China, Índia, México e África do Sul.

OBrasil recebeu um forte apoio diplomático para passar a ter um papel político mais importante no cenário internacional. Num encontro com todos seus embaixadores em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse ontem que o Brasil deve ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, além de passar a fazer parte do G-8, o grupo de países mais ricos e a Rússia. O anúncio ocorreu em meio a ameaças ao Irã, reações à política externa da Rússia e críticas à presença americana no Iraque, no primeiro discurso de Sarkozy sobre a política exterior de seu governo.

O palco utilizado pelo presidente francês foi a XV Conferência de Embaixadores da França, que reuniu mais de 180 diplomatas. No discurso de abertura do encontro, Sarkozy definiu quais seriam as diretrizes da postura diplomática do país nos próximos anos. Um dos principais pontos foi a defesa de uma ampliação institucional do G-8, que incluiria permanentemente Brasil, China, Índia, México e África do Sul, passando a se chamar G-13.

- A coordenação econômica e a necessidade de uma cooperação estreita entre os países mais industrializados e os grandes emergentes para lutar contra a mudança climática justificam esta evolução - disse o mandatário francês. - O G-8 deve continuar suas lenta transformação. O diálogo realizado durante os últimos encontros, com os mais importantes líderes de China, Índia, Brasil, México e África do Sul deve ser institucionalizado e durar um dia inteiro (a cada reunião do grupo de países). Gradualmente, o G-8 deve se tornar o G-13.

O presidente da França também se referiu a "mudanças necessárias" no Conselho de Segurança da ONU, principal organismo decisório da entidade. Ele citou nominalmente Brasil, Alemanha, Índia, Japão e "uma justa representação para a África". Os quatro países mencionados por Sarkozy já uniram esforços diplomáticos para pleitear vagas permanentes no conselho, sendo chamados de G-4.

A França é um dos cinco países que têm assento permanente e direito a veto no conselho, ao lado de EUA, Rússia, Reino Unido e China.

Casa Branca reage com cautela

O antecessor de Sarkozy, Jacques Chirac, recebera com cautela a idéia de ampliar o Conselho de Segurança e foi evasivo quanto a um possível apoio francês ao Brasil até 2004. A partir do Fórum Econômico Mundial de 2005, Chirac se aproximou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na defesa de políticas contra a fome nos países pobres. Ano passado, Chirac e o governo francês já declaravam apoio à entrada do Brasil no conselho.

Quanto à ampliação do G-8, a proposta de Sarkozy foi considerada uma novidade. Países emergentes têm participado dos últimos encontros do grupo dos ricos, mas como convidados. A idéia de Sarkozy foi recebida com cautela pela Casa Branca.

- Se a idéia amplia ou reforça os países do G-8 é uma questão de longo prazo que deverá ser examinada - disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Gordon Johndroe. - Partilhamos do objetivo do presidente Sarkozy de uma participação eficaz das grandes economias emergentes no processo do G-8.

O presidente francês também destacou assuntos estratégicos para o seu país. Criticou severamente o programa nuclear do Irã, defendendo o aumento de sanções:

- Essa iniciativa é a única que pode evitar a alternativa que afirmo ser catastrófica: uma bomba iraniana ou o bombardeio do Irã.

Sarkozy ressaltou a relação de amizade com os EUA, mas alertou que "aliado não significa alinhado". Ele criticou Washington na política de meio ambiente e pelo "uso unilateral da força". Sobre o Iraque, afirmou que deve haver uma perspectiva clara de retirada de tropas, pois só após o fim da ocupação a comunidade internacional "poderá atuar de modo mais útil".

Ele também discordou dos EUA, e de Chirac, em relação à Síria, defendendo um diálogo com o país.