Título: Outros petistas recorrem à emoção na defesa
Autor: Franco, Bernardo Mello e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 23/08/2007, O País, p. 8

Advogados retratam clientes como vítimas e desqualificam denúncia.

BRASÍLIA. Os advogados dos outros três ex-dirigentes do PT indiciados no inquérito preferiram recorrer à emoção. O representante de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, o descreveu como "um homem de bem", que teria sido envolvido "por um simples capricho" da Procuradoria Geral da República. Disse que o deputado não participava de negociações financeiras e que assinou por formalidade os empréstimos do PT com o Banco Rural e o publicitário Marcos Valério - operações forjadas, de acordo com a denúncia.

- Ele não está sendo acusado pelo que fez, mas pelo que era: presidente do PT - disse.

Segundo o advogado Arnaldo Malheiros Filho, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, descrito pela Procuradoria como o dirigente poderoso que determinava a quem deviam ser repassados os recursos do mensalão, era apenas um burocrata do partido.

- Ficou provado cabalmente que se trata de um homem pobre, de vida modesta - disse.

Acusado de comandar a distribuição de cargos no governo aos partidos envolvidos no escândalo, Sílvio Pereira alega ter chegado à cúpula petista sem poder para influenciar as decisões do Planalto. O advogado Ibrahim Badaró argumentou que ele foi conduzido ao cargo em abril de 2004, dois anos depois da inauguração do esquema:

- Sílvio assumiu um mandato-tampão, mas foi posto no núcleo central da denúncia como se fosse uma estrela do partido.

Argumentos semelhantes apontam para imprecisão

Os argumentos dos advogados foram semelhantes. Repetiam que a denúncia da Procuradoria era imprecisa ao descrever os atos dos indiciados. Segundo eles, o procurador referiu-se a vários acusados como integrantes de grupos específicos sem detalhar a suposta conduta ilegal de cada integrante.

- A defesa vai passo a passo tentando adivinhar a denúncia, porque não se diz qual é o ato de ofício - protestou José Antero Monteiro Filho, advogado do de"putado Romeu Queiroz (PTB-MG) e do publicitário Cristiano Melo Paz, ligado a Valério.

- A denúncia é inepta, inconsistente, injusta e ofensiva - atacou Hermes Guerreiro, representante de Ramon Rollembach, também do grupo de Valério.

Marcelo Leonardo, que representa Valério e sua secretária, Simone Vasconcelos, considerou ridícula a acusação de que o publicitário teria usado a mulher, Renilda Santiago, como laranja. Ele disse que Valério atuava em nome da mulher em empresas de publicidade das quais era sócia por procuração pública, registrada em cartório.

- É o supremo abuso do poder de denunciar.

José Carlos Dias, advogado dos diretores do Banco Rural Kátia Rabelo e José Roberto Salgado, comparou a denúncia a processos da ditadura militar, com denúncias vagas. Foram ouvidos ontem 17 advogados. Hoje há 15 inscritos.