Título: Pugilistas estão proibidos de sair de Cuba
Autor: Oliveira, Eliane e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/08/2007, O País, p. 16

Chanceler do governo Fidel Castro reconhece que houve "coordenação" com o Brasil para expulsão dos desertores.

BRASÍLIA. Os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que desertaram de sua delegação durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, "estão levando sua vida normal", não enfrentaram qualquer tipo de punição legal, mas jamais poderão deixar seu país novamente. A afirmação foi feita ontem pelo chanceler de Cuba, Felipe Pérez Roque, que revelou que seu governo e o brasileiro entraram em contato assim que os atletas foram levados à Polícia Federal, no fim do mês passado, para organizarem seu regresso.

- Logicamente, tivemos que fazer coordenações para que eles pudessem regressar - disse Pérez Roque.

"Os boxeadores cometeram uma indisciplina grave"

Ele enfatizou que foram os próprios atletas quem pediram para voltar a seu país. Segundo o ministro, em Cuba, Guillermo e Erislandy terão um trabalho "honroso", de acordo com suas especialidades. Mas representar Cuba em competições internacionais está fora de cogitação:

- Os boxeadores cometeram uma indisciplina grave. A decisão de quem representa a bandeira cubana em eventos desportivos é tomada pelo país - acrescentou.

Mais tarde, ao chegar ao Palácio do Planalto, onde foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pérez Roque afirmou que a polêmica está encerrada. E assegurou que o governo cubano não pediu nada ao Brasil, apenas coordenou com o governo brasileiro a volta dos atletas.

- Esse tema está encerrado. É um tema já irrelevante, não faz parte da agenda das relações bilaterais - disse o chanceler.

Rigondeaux é campeão olímpico e Lara, campeão mundial. Os dois foram encontrados pela Polícia Militar em Praia Seca, na cidade fluminense de Araruama. Ambos estavam sem passaporte e foram levados à Polícia Federal, em Niterói. Eles disseram ter decidido desertar para lutar na Alemanha.

O arrependimento dos pugilistas não aplacou a ira do líder cubano, Fidel Castro, que teria determinado o retorno imediato de cerca de 200 atletas cubanos antes da cerimônia de encerramento do Pan. Fidel estaria temendo novos aliciamentos, contou uma fonte da diplomacia brasileira. Antes dos boxeadores, dois atletas cubanos já haviam abandonado a delegação.