Título: Cenário sombrio
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Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2009, Opinião - Editorial, p. 18

A queda do PIB anunciada ontem não surpreendeu, mas assustou. Governo, empresários e analistas esperavam, para o quarto trimestre de 2008, a redução da atividade econômica ante o terceiro trimestre, porém não contavam com tombo tão expressivo. O percentual, de 3,6%, é a maior retração desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Fontes otimistas falavam em baque de 1,6%; pessimistas, em 3,5%. Ambos se equivocaram.

A má notícia não se restringe ao PIB. Outros índices também registraram comportamento preocupante. A produção industrial de janeiro caiu 17,2% em relação a janeiro do ano passado. Em relação a dezembro, houve pequeno crescimento de 2,3%. A melhora, considerada pequena, frustrou as expectativas do mercado, que aguardava salto de 8,5%. Vale lembrar o rombo de dezembro ¿ 12,7%.

Mais: a Confederação Nacional da Indústria (CNI) anunciou queda de 4,3% no faturamento do setor no mês de janeiro em relação a dezembro e 13,4% em relação a janeiro de 2008. O segmento está em processo de recuperação, mas em ritmo lento, que não deve se acelerar a curto prazo. Não só. O IGP-DI, índice que mede a inflação, assinalou deflação, sinal de fraqueza da demanda.

O cenário interno, pois, é sombrio. O externo não acena com cores mais vivas. O Fundo Monetário Internacional prevê recessão mundial, realidade inédita em muitas décadas. Com a atividade econômica na retranca, as exportações perdem força. O crédito mantém-se escasso e caro. O desemprego cresce. Não há, portanto, por que temer pressões de demanda. O Comitê de Política Monetária (Copom), que deve anunciar hoje redução na Taxa Selic, precisa abandonar a cautela excessiva e assumir o papel que desempenha no esforço de superação da crise que empobrece os cinco continentes.

Em setembro de 2008, a Selic bateu nos 13,75%. Manteve-se nesse patamar até 21 de janeiro deste ano, quando o tsunami financeiro já fizera estragos nas economias ricas, emergentes e pobres. O corte de um ponto percentual decidido na ocasião mostrou-se insuficiente. Aguarda-se agora número mais ousado. Diante da deterioração dos indicadores, muitos economistas esperam redução de pelo menos 1,5 ponto. O setor produtivo exige queda de, no mínimo, dois pontos percentuais e a retomada do crédito. Sem isso, não haverá recuperação.