Título: Lula sobre críticas: ' Quem vai se vingar é o povo'
Autor: Araújo, José e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 05/09/2007, O País, p. 8

Presidente prevê crescimento e diz que, apesar do equilíbrio na economia, não haverá "gastança"

Isabela Martin, Letícia Lins e José Araújo*

RECIFE, ARACAJU e PETROLINA. Ao participar ontem da solenidade que marcou o início das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que seu sucessor vai encontrar um país mais organizado. Para ele, o Brasil entrou num ciclo de desenvolvimento sustentável e terá dez ou mais anos de crescimento se os próximos governantes "tiverem juízo". Lula ressaltou a necessidade de manter a austeridade e afirmou que não haverá "gastança".

- Não queremos dizer que já estamos livres, porque não sabemos o tamanho da crise. Mas precisamos ficar alertas porque o Brasil ainda exige cuidados. Não podemos, porque chegamos numa situação de equilíbrio, achar que está tudo resolvido e começar a gastança. Não, nós vamos continuar agindo como sempre agimos, o Brasil não vai gastar aquilo que não pode gastar, o Brasil vai fazer aquilo que um trabalhador sério faz na sua casa - disse Lula.

Confiante no sucesso do seu segundo mandato, Lula disse que quem torcer contra vai quebrar a cara:

- As pessoas ficam torcendo para a desgraça ser maior. Em mim não pega porque eu creio em Deus. Todo dia converso com Ele para pegar energias positivas. Quem torcer contra vai quebrar a cara. É melhor torcer a favor.

Autoridades pisam na lama e se apertam em trator

Lula disse que mantém a disposição de governar sem discriminar adversários, e afirmou que não excluirá nem os que o "esculhambarem". Segundo ele, nunca houve um presidente da República que tenha uma relação de amizade com a maioria dos governadores como ele. Segundo o presidente, agora é tempo de governança e não de disputa nem picuinha política:

- Podem me esculhambar. Quem vai se vingar é o povo, não sou eu. Temos tudo para que as coisas dêem certo.

Lula participou de dois eventos no Complexo Portuário e Industrial de Suape, em Ipojuca, a 45 quilômetros de Recife. Descerrou a placa inaugural do Cais 4 do porto e participou da solenidade que marcou o início das obras da refinaria.

Sob forte chuva, Lula subiu numa retroescavadeira, que retirou o primeiro monte de areia da área de 630 hectares que será ocupada pela refinaria. Também ficaram espremidos no trator, que só tem lugar para um ocupante, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o ministro interino das Minas e Energia, Nelson Hubner, o operador Amauri Luiz Cruz e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que ficou pendurado. Todos ficaram ensopados. Lula recusou o convite para dirigir o trator. Molhado, o terreno de piçarra ficou escorregadio e Lula teve que arregaçar as calças ao caminhar sobre a lama.

Cercado de forte esquema de segurança, Lula esteve também em Sergipe para batizar a plataforma de Piranema, que será responsável pela extração de petróleo em águas profundas na costa do estado. O presidente não viu famílias de sem-teto que portavam faixas e entoavam palavras de ordem na frente do Teatro Tobias Barreto, onde aconteceu a solenidade. No teatro, Lula insistiu nos bons momentos da economia, e deu conselhos ao anfitrião, o governador Marcelo Déda (PT-SE).

- Déda, não dê importância às criticas de seus adversários, mas também não acredite nos elogios deles. Você precisa é construir uma boa base de sustentação política para trabalhar a favor da maioria do povo - disse Lula.

Elogios aos "governadores jovens" e aos de oposição

Em Aracaju, Lula repetiu que vive um dos melhores momentos de sua vida e afirmou que um dos motivos para isso é não ter que disputar eleições em 2010. Outro, seria por Deus ter lhe dado um segundo mandato na companhia de governadores jovens que "não fazem da política instrumento de ódio". Citou ainda a boa relação com os governadores do PSDB.

- Sei exatamente o que é preciso fazer e o que tenho que enfrentar, e ainda quis Deus que eu ganhasse um segundo mandato na companhia de governadores jovens, como Marcelo Déda, Jaques Wagner (BA), Wellington Dias (PI) e Eduardo Campos (PE) - disse. - Mesmo com os governadores do PSDB, como José Serra (SP), Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB) e Yeda Crusius (RS), não tem porque não se ter uma relação civilizada, com parceria.

Lula encerrou quase às 21h a última etapa da visita ao Nordeste voltando a Pernambuco. Em Petrolina, a 780 quilômetros de Recife, participou da solenidade de reinauguração e ampliação de uma escola do Senai. Em discurso, criticou os antecessores, culpando as últimas décadas pela estagnação econômica.

(*) Especial para