Título: O senhor dos imóveis
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 05/09/2007, Economia, p. 23

Bilionário Sam Zell, dono de 225 mil apartamentos nos EUA, aposta agora no Brasil.

Toda vez que visita o Brasil, Sam Zell é a imagem do gringo boa praça: vai às reuniões de negócios de jeans e circula com um boné laranja com o logotipo do seu império imobiliário, o Equity Group. Filho de imigrantes poloneses que fugiram da Segunda Guerra, formado em direito pela Universidade de Michigan, casado, três filhos, morador de Chicago, ele é, aos 65 anos, o maior investidor imobiliário dos EUA. Nos últimos dois anos, passou do 112º lugar para o 52º na lista dos bilionários da revista ¿Forbes¿. Seu grupo imobiliário nos EUA tem 225 mil apartamentos e 120 milhões de metros quadrados de escritórios. Ele começou a investir em imóveis quando ainda era estudante, há 40 anos, e fez dinheiro comprando e reformando apartamentos degradados para revender. Ganhou no mercado o apelido de grave dancer, o dançarino das covas, pela capacidade de lucrar com ativos que outros consideravam acabados. Zell, que enriqueceu investindo em negócios pré-falimentares e reestruturando as dívidas das empresas, volta agora sua atenção para o Brasil.

Na mais recente tacada, o megainvestidor decidiu ampliar a participação na sociedade que tem desde novembro com o grupo carioca GP Investimentos no setor de shoppings, a BR Malls Participações. Atualmente, tem 19,1% da empresa, mesma fatia que os fundos da GP. Com a operação, anunciada há dois dias, a BR Malls será o maior negócio de Zell fora dos EUA.

Zell fez sua primeira aparição na lista da ¿Forbes¿ em 1986, com modestos US$200 milhões, em 400º lugar. Vinte anos depois, acumulou US$4,5 bilhões em três grandes negócios de investimentos imobiliários: a Equity Residencial (para imóveis residenciais, que detém 25% de seus investimentos); a Equity Office (imóveis comerciais e montagem de fábricas para investidores interessados em alugar instalações, com 40% de seus negócios); e a Equity Lifestyle (desenvolvimento de condomínios e hotéis, com 9%). O restante vai para negócios diversificados. Ao grupo imobiliário, recentemente se somou um império de mídia, com a compra do Tribune Co., dono, entre outros, do ¿Los Angeles Times¿ e do ¿Chicago Tribune¿.

Empresário não crê em estouro da bolha nos EUA

Em abril, após seis meses de negociações, o Tribune Co. aceitou a oferta de Zell, vendendo a opção de compra de seu controle por US$8,2 bilhões, além de US$5 bilhões em dívidas. Zell se comprometeu a assumir também o custo de um plano de concessão de ações aos trabalhadores. O negócio, porém, ainda precisa ser confirmado pelas autoridades do país. O grupo Tribune Co. controla 13 jornais nos EUA e no Reino Unido, três jornais em espanhol, 23 canais de televisão, uma rede de TV a cabo, uma rádio em Chicago e o time de beisebol Chicago Cubs, cujo controle será vendido no fim da temporada de 2007.

No Brasil, Zell tem negócios desde que seu fundo de investimentos Acon adquiriu, há alguns anos, o controle da rede supermercadista G.Barbosa, no Nordeste. Em 2006, associou-se à Gafisa, comprando 32% por US$55 milhões. Meses depois, recuperou o investimento, reduzindo sua participação. O investidor acha que o Brasil é ¿a bola da vez¿ para quem quer ganhar dinheiro. Em declarações à imprensa, não se cansa de elogiar o país. Recentemente, disse que ¿o Brasil é um dos mercados mais interessantes do mundo¿, prestes a obter o grau de investimento das agências de risco. Por isso, diz, ¿quem chegar primeiro terá mais lucro¿. Disposto a firmar sua posição de longo prazo, aposta no desenvolvimento sustentável do país.

Ele costuma afirmar que o Brasil já elegeu seu presidente de esquerda, e que, ao contrário da Venezuela, ele é ¿simpático aos americanos¿. E vislumbra no país possibilidades de lucro que outros emergentes não oferecem, nem mesmo o México, onde Zell fez grandes negócios através do grupo Homex ¿ que já vendeu quatro milhões de casas populares e cujas ações subiram 75% nos últimos doze meses.

Zell é responsável pela escalada fulminante de seu negócios no Brasil. Em nove meses, a desconhecida BR Malls saiu da quinta posição entre os grupos de shopping para assumir a liderança por área de locação. No percurso, desbancou nomes tradicionais como Iguatemi, dos Jereissati, e Multiplan, dona do Morumbi Shopping e do Barra Shopping. A escalada já consumiu R$1,4 bilhão, mais que os investimentos de todos os concorrentes somados. Foram fechadas 19 aquisições. O maior lance foi a compra, de uma só vez, de quatro shoppings no Rio (Niterói Plaza, São Conrado Fashion Mall, Ilha Plaza e Rio Plaza), por R$832 milhões em julho. A carteira atual tem 25 shoppings prontos e um em construção, em São Paulo, com investimento de R$139 milhões. No primeiro trimestre, a BR Malls teve margem de lucro de 77%, percentual impensável hoje no mercado imobiliário americano.

Zell não acredita que a bolha imobiliária está prestes a explodir no mercado americano. No Brasil, aposta num crescimento rápido do mercado de imóveis, com cada vez mais brasileiros aumentando o consumo.