Título: Gradiente, a crise por trás de uma marca
Autor: Rodrigues, Lino e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 05/09/2007, Economia, p. 25

Fabricante perde fôlego contra gigantes mundiais e tenta aliviar dívida de mais de R$300 milhões com bancos.

SÃO PAULO. Pressionada pela concorrência de gigantes mundiais do setor de eletroeletrônicos, a Gradiente tenta reestruturar seus negócios, em meio a uma grave crise financeira. Vendendo seus produtos apenas no mercado nacional, a empresa, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, não tem escala para ser competitiva, num mercado dominado por pesos-pesados como LG, Samsung, Sony e Philips.

¿ O setor muda constantemente, com pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e produtos, que demandam muito capital. E só se consegue diluir esses valores com escala muito grande ¿ explica um consultor especializado no setor. ¿ Vendendo apenas aqui, os custos ficam muito altos e não dá para ser competitivo.

Semana passada, a Gradiente vendeu por R$22 milhões a marca Philco, que comprara do grupo Itaúsa por R$60 milhões dois anos antes. E demitiu mais de 100 funcionários, primeiro passo para reestruturar a empresa, que, em 2006, tinha dívidas de R$317 milhões, sobretudo com bancos. Agora, negocia com a fabricante de motocicletas Honda a venda de uma de suas três fábricas na Zona Franca de Manaus. O imóvel é avaliado em R$30 milhões.

O dono da Gradiente, Eugênio Staub, um dos primeiros empresários a apoiar a candidatura de Lula, mantém-se em silêncio, enquanto luta para virar o jogo.

Desde 2001, empresa só fechou no azul em um ano

Nos últimos anos a Gradiente fez de tudo para cortar custos: terceirizou fornecedores, mão-de-obra e passou a desenvolver produtos na China, trazendo de lá componentes e peças. Mas nos últimos sete anos, só teve lucro em 2005, graças a créditos tributários. Seu patrimônio líquido caiu de R$106 milhões, em 2005, para menos de R$4 milhões no ano seguinte. Nos dois últimos anos, a fabricante recorreu duas vezes ao BNDES: tomou R$100 milhões em 2005 e R$63 milhões em 2006.

A empresa também tem dificuldades para pagar fornecedores. Entre julho e agosto, paralisou por duas semanas a produção na Zona Franca. Esta semana, a pretexto dos feriados de 7 de Setembro e do aniversário de Manaus, dispensou novamente os funcionários.

¿ A empresa mandou o pessoal para casa, porque não tem componentes para trabalhar ¿ disse ontem Edilson Pinheiro da Silva, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, acrescentando que foram homologadas 443 demissões na unidade, desde janeiro.

A Gradiente não reconhece as demissões e nega que as paralisações foram motivadas pela falta de insumos. A empresa, que já foi líder no mercado de DVD players, hoje detém 16% do mercado. No de TVs, em maio, ainda com a Philco, tinha 8%.