Título: Mantega: alta de preços acendeu sinal amarelo
Autor: Batista, Henrique Gomes e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 05/09/2007, Economia, p. 27

"Inflação é algo sério, não vamos permitir que se eleve", diz ministro, destacando que governo tem medidas para tomar.

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a recente escalada dos preços, refletida em vários índices de inflação, já acendeu no governo o sinal amarelo. Às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Taxa Selic, que terá este cenário de pressão como foco de análise, a consideração de Mantega foi feita em comentário sobre a publicação, pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), do custo da cesta básica em agosto, que subiu nas 16 capitais pesquisadas. As altas variaram entre 2,26% (Goiânia) e 9,62% (Natal).

- Estávamos com um patamar de inflação um pouco baixo. A gente estava um ponto e meio abaixo do centro da meta (4,5% para este ano). Uma aproximação do centro da meta não chega a ser trágico. Temos que ver se isso persiste por um, dois meses. Estamos vigilantes, a inflação é algo sério para nós, não vamos permitir que ela se eleve, alguns preços estão sendo afetados. Até agora, enfim, acendeu apenas o sinal amarelo. O governo tem medidas para tomar - afirmou.

Ele voltou a informar que alguns preços estão subindo acima do esperado -- como trigo, lácteos e carne -- e que o governo poderá reduzir o imposto de importação de alguns produtos para diminuir a pressão. O ministro lembrou ainda que, no caso das commodities, não há muito o que ser feito.

O IPCA-15, que serve de parâmetro para o IPCA (que orienta o sistema de metas de inflação), subiu 0,42% em agosto, ante 0,24% em julho. O IGP-M foi a 0,98%, ante 0,28% no mês anterior. Entre janeiro e julho, a inflação oficial acumula 2,32%, contra 1,73% nos sete primeiros meses de 2006.

Dois anos de corte nos juros impulsionaram consumo

Se a expectativa do mercado se confirmar, e o BC interromper mais cedo o ciclo de corte dos juros, os efeitos imediatos sobre a economia tendem a ser pequenos, mas com conseqüências a médio prazo. O setor produtivo não descarta reduzir a velocidade dos investimentos, alegando que o fim antecipado da política monetária expansiva traria "frustração". Para os consumidores, porém, o impacto nas taxas dos empréstimos não deve ser sentido com intensidade, já que o repasse das quedas pelos bancos é pequeno.

Os analistas apontam como uma das vantagens dos dois anos de queda dos juros o impulso ao consumo interno, que alimentou os investimentos da indústria e da agropecuária. Não à toa, só para citar os últimos dados disponíveis (julho), a produção de máquinas e equipamentos subiu 19% frente ao ano anterior. As importações da categoria cresceram 28%.

A taxa de investimentos - volume aplicado em máquinas e na construção civil como proporção do PIB - cresceu 7,2% no primeiro trimestre, segundo o IBGE, na 13ª alta. Respondeu por quase metade da expansão da economia no período.

- As respostas do setor produtivo têm sido positivas. Mas o ciclo positivo de investimentos é referendado pela trajetória de queda dos juros - diz o coordenador da unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.