Título: Petrobras inicia obra sem Chávez
Autor: Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 05/09/2007, Economia, p. 29

Refinaria será feita sem PDVSA, diz Gabrielli. Venezuelano falta à cerimônia.

RECIFE. Quase dois anos depois de lançar a pedra fundamental da refinaria Abreu e Lima ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e menos de um mês depois de ouvir do colega venezuelano críticas pelo atraso nas obras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ontem da solenidade que marcou o início das obras de terraplenagem. No entanto, o acordo de parceria com a PDVSA - a estatal venezuelana que fornecerá parte do petróleo a ser refinado - não está fechado. E nenhum representante do governo Chávez participou do evento.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, garantiu em seu discurso que a refinaria será construída mesmo que as negociações com a PDVSA não avancem.

- Pretendemos manter essa parceria, mas, enquanto não avançamos nas negociações, não podemos parar. Vamos fazer essa refinaria. Esperamos que com sócios, mas vamos fazer - afirmou Gabrielli no encerramento de seu discurso.

Produção deve começar em 2010

A previsão é que a refinaria comece a produzir em 2010 parte dos 200 mil barris de petróleo por dia, marca que será atingida quando ela estiver operando em sua capacidade máxima. A unidade vai utilizar petróleo pesado do Brasil e da Venezuela.

Segundo o presidente da Petrobras, as ordens de serviço estão assinadas, e as empresas de engenharia que executarão o serviço de terraplenagem já foram contratadas. Será uma obra gigantesca. A área de 630 hectares ainda terá de ser desmatada. A refinaria Abreu e Lima será a primeira no país a processar 100% de petróleo pesado oriundo do Brasil e da Venezuela.

Anualmente, deverão ser produzidos 814 mil metros cúbicos de nafta, 322 toneladas de gás de cozinha (GLP), 1,4 milhão de toneladas de coque e 8,8 milhões de toneladas de diesel, para atender principalmente à demanda do Nordeste.

Lula evita comentar ausência de venezuelanos

Em seu discurso, o presidente Lula falou da importância da refinaria, que foi alvo de disputa entre vários estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão. Afirmou também que foi necessário ter habilidade técnica e política para escolher o local mais adequado para abrigar o projeto. Referindo-se a todos os governadores, Lula disse que tinha 27 filhos querendo comer um bife chamado refinaria, mas ganharia a obra quem apresentasse um parceiro.

Lula afirmou ainda que conversou com o presidente da Venezuela sobre a refinaria várias vezes. Mas ontem não fez qualquer comentário sobre os motivos pelos quais as negociações não haviam sido concluídas.