Título: Uma mineira que gosta de 'dois dedos de prosa'
Autor: Gripp, Alan e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 24/08/2007, O País, p. 4

Cármen Lúcia tem estilo informal.

BRASÍLIA. Uma breve conversa com Cármen Lúcia Antunes Rocha - ou dois dedos de prosa, como ela mesma diria - já é capaz de revelar o bom-humor e o estilo informal da ministra. Um ar que mudou ontem por conta da divulgação de mensagens trocadas por ela com outro colega da corte.

Nomeada para o Supremo Tribunal Federal (STF) em junho do ano passado, a mineira de Montes Claros discretamente acabou promovendo uma pequena revolução de costumes na corte. Em março deste ano, tornou-se a primeira ministra a participar de uma sessão plenária vestindo calças compridas. O uso do traje já havia sido liberado em 2000, quando Ellen Gracie Northfleet chegou ao tribunal. No entanto, Ellen Gracie preferiu não quebrar o tabu do vestuário.

Cármen Lúcia não é de ostentar poder. Costuma dirigir seu próprio carro, um Golf ano 2001, e dispensar o luxo do carro oficial e motorista particular que o cargo propicia. Esse hábito já a levou ao constrangimento de ser barrada na porta da garagem do tribunal por um funcionário, logo que tomou posse. Teve que explicar, didaticamente, que trabalhava no local como ministra.

Aos 51 anos, Carmen Lúcia foi procuradora-geral do estado de Minas Gerais durante o governo de Itamar Franco, advogada e professora da Pontifícia Universidade Católica mineira - a mesma na qual graduou-se em direito, em 1977. Ao longo da carreira, publicou nove livros jurídicos. Foi indicada para o STF na vaga deixada por Nelson Jobim.

Apesar de não ter marido ou filhos, gosta de dedicar-se à família, ainda radicada em Minas Gerais, e faz visitas ao pai sempre que pode. Não é adepta de badalações, mas tem o riso fácil e não dispensa um bom bate-papo com os amigos. Nas rodas, é destaque como exímia contadora de causos. No dia-a-dia, para não perder tempo, caminha em uma esteira no apartamento onde mora, em Brasília, enquanto lê os milhares de processos que chegam à mais alta corte de Justiça.