Título: Advogados comemoram indiscrição de ministros
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 24/08/2007, O País, p. 9

Para a defesa, ministros já deram indícios de que rejeitarão pelo menos parte da denúncia.

BRASÍLIA. Embora a maioria tenha evitado declarações públicas, os advogados de defesa dos acusados de envolvimento no mensalão não conseguiram disfarçar a satisfação com o teor das conversas entre os ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Nos diálogos, os dois indicam que rejeitarão parte das denúncias do Ministério Público Federal. Cármen diz ainda que outro ministro (Eros Grau) lhe confidenciou que as rejeitará integralmente.

Apesar da interpretação de que as conversas favoreciam acusados, os advogados preferiram não entrar em colisão com os ministros, já constrangidos. A exceção foi Luiz Fernando Barbosa, advogado do deputado cassado Roberto Jefferson:

- As mensagens confirmam que a tendência é não aceitar a denúncia, pelo menos não totalmente - disse.

O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, que representa o empresário Rogério Tolentino, atacou a denúncia da Procuradoria Geral da República:

- Se existem dúvidas, é porque a denúncia é ruim.

Outros advogados defenderam a troca de informações entre os ministros:

- É normal a troca de opinião entre os ministros, eles não estão proibidos como estão os jurados. É salutar até - disse o advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, que defende Kátia Rabello, dona do Banco Rural.

A defesa do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) alegou que ele devia ser testemunha de acusação, e não acusado. O advogado Luiz Francisco Barbosa chamou de surpreendente a inclusão do petebista na lista de 40 acusados.

- Foi ele quem denunciou e até batizou o mensalão.

Segundo o advogado, Jefferson não praticou crime ao receber do PT R$4 milhões em recursos não declarados à Justiça Eleitoral. O repasse faria parte de um acordo para as eleições municipais de 2004, e Jefferson não teria conhecimento da origem ilegal da quantia.

O advogado do publicitário Duda Mendonça apostou na alegação de inocência sobre a origem de R$10,5 milhões recebidos do PT em contas no exterior. Segundo ele, Duda teria sido obrigado pelo partido a receber a quantia em Miami.

- Ele não fez a conta para enganar o Judiciário ou a Receita, fez porque foi compelido pelo PT - disse o advogado Tales Castelo Branco. - Ocultar dinheiro no exterior não é lavar dinheiro, é crime contra a ordem tributária. Lavagem de dinheiro é uma coisa muito séria....

Castelo Branco comparou o cliente famoso ao personagem Bentinho, do clássico "Dom Casmurro", de Machado de Assis:

- Duda se tornou um homem recluso e calado, desiludido, até por ter dito a verdade no Parlamento.