Título: 'O país está de olho neles', diz Simon
Autor: Noblat, Ricardo
Fonte: O Globo, 24/08/2007, O País, p. 10

Congresso comenta troca de e-mails no STF.

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. Para alguns, tudo normal. Para outros, um absurdo. Assim foi vista no Congresso a troca de informações sobre votos no julgamento do escândalo do mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF), e de inconfidências a respeito do sucessor do ministro aposentado Sepúlveda Pertence, flagradas por lentes de fotógrafos. A troca de impressões, via e-mail, entre os ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia dividiu opiniões.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que a sociedade tem grande expectativa sobre o julgamento e espera que os ministros do STF não traiam a opinião pública.

- O que foi revelado é da mais alta gravidade. Faz com que redobremos a atenção na capacidade e na imparcialidade dos integrantes do STF em decidir sobre o caso. Já é triste o que se vê no Congresso, com a classe política fazendo um papel muito criticado pela sociedade. Se o Judiciário segue na mesma trilha, aí var ser muito difícil fazer as coisas caminharem no país - afirmou Simon. - Na conversa entre eles, longe das declarações públicas, das entrevistas, há observações preocupantes, que sugerem combinação de votos. Em todo o caso, o país está de olhos neles.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), considerou de extrema gravidade e quer explicações públicas. Para ele, o fato compromete o julgamento. Virgílio destacou o constrangimento das articulações sobre o possível sucessor de Pertence, Carlos Alberto Direito:

- O fato de estar combinando votos exige uma explicação urgente. A votação fica sob suspeita.

Entre os que consideraram natural a troca de opiniões sobre o voto está o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Médico, ele comparou a atitude à troca de idéias sobre diagnósticos:

- É da tradição do Supremo os ministros conversarem entre si.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) minimizou os e-mails:

- Não é nenhum pecado, mas impressiona serem divulgadas porque mostra que os ministros não são deuses, são homens. Esse tipo de diálogo é corriqueiro, demonstra como é o dia-a-dia na Corte. É pena que tenha vindo a público, mas ao mesmo tempo é uma delícia.