Título: País, agora, está menos vulnerável
Autor: Oliveira, Eliane; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 21/09/2008, Economia, p. 35

Reservas, superávit primário e sistema bancário garantem blindagem

Henrique Gomes Batista, Patrícia Duarte e Gustavo Paul

BRASÍLIA. O discurso oficial do governo - que afirma que o Brasil está muito mais preparado agora do que em crises passadas -, encontra respaldo entre os economistas. Especialistas apontam três principais motivos para a atual blindagem: reserva internacional vultosa, acima de US$200 bilhões; forte superávit primário (economia realizada pelo governo para o pagamento dos juros da dívida pública); e um sistema bancário bem regulamentado e pouco exposto no mercado global.

Embora o país não esteja imune a um grave problema no sistema financeiro mundial, as conseqüências para a economia local devem ser bem menores.

- Antes, o Brasil era o primeiro a ser levado com as tempestades. Agora está muito mais sólido. A crise tem um potencial de um furacão devastador, mas o Brasil poderá ser considerado, após todas as tormentas, um dos prédios sólidos que sobreviveram a este período - afirmou Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios.

Para ele, o Brasil sairá fortalecido de toda esta crise e pode até atrair capitais, movimento exatamente oposto ao que sempre ocorria nos momentos de alta volatilidade do passado.

- O maior risco para o Brasil é a volatilidade dos preços internacionais, incluindo a cotação do dólar - disse Leite.

Para Joaquim Eloi Cirne de Toledo, da Universidade de São Paulo (USP), além das elevadas reservas, o forte resultado fiscal, que tem feito a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) cair significativamente, tem papel fundamental. Ele acredita que o sistema bancário brasileiro sólido - incluindo os fundos de investimento - também é um bom antídoto para esta crise.

Ele afirmou que o baixo nível de crédito da economia, se comparado a outros países, também gera segurança ao Brasil. Segundo Cirne, tanto as famílias quanto as empresas brasileiras são menos "alavancadas" - financiadas - que a média mundial.

O Banco Central tende a sair fortalecido, graças à sua postura ortodoxa e à forte regulação que impôs ao mercado financeiro brasileiro. No início do ano, as elevadas reservas internacionais brasileiras eram questionadas, devido ao seu custo. Atualmente, são apontadas por todos como grande trunfo do Brasil neste momento.

Para o professor Antônio Corrêa de Lacerda, do departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a blindagem brasileira se deve às medidas adotadas nos últimos anos, como a redução da dívida externa, o fim da dívida interna atrelada ao dólar, a inflação bem comportada e dentro da meta e uma economia interna aquecida. Mas ele advertiu que a conseqüência da atual crise será a redução do crescimento brasileiro em 2009.

Fábio Kanzuc, professor da FEA/USP, destacou que o Brasil poderá ser considerado um porto seguro para os investidores. Segundo ele, o país goza de boa confiança externa. Isso, inclusive, permitirá que o governo cumpra o objetivo de ter o equilíbrio fiscal em 2010.

Segundo Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, o país tem reservas suficientes para pagar quase quatro vezes a dívida externa pública. Isso coloca o país em uma situação tranqüila em termos de contas externas.