Título: Plano de socorro de Bush chega a US$700 bi
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Fonte: O Globo, 21/09/2008, Economia, p. 37
Plano de socorro de Bush chega a US$700 bi
Limite da dívida americana seria elevado a US$11,3 tri. Para presidente dos EUA, `risco de não fazer nada é pior¿
Do New York Times*
WASHINGTON e NOVA YORK. A administração Bush propôs formalmente ontem ao Congresso o que poderá ser o maior plano de socorro ao sistema financeiro da História dos EUA. A Casa Branca está pedindo que o Legislativo dê permissão ao Tesouro americano para comprar até US$700 bilhões em ativos hipotecários, incluindo créditos podres.
A proposta, de não mais de três páginas, impressiona pela simplicidade. Ela elevaria o limite da dívida americana para US$11,3 trilhões. E garantiria ao secretário do Tesouro poder sem precedentes para comprar e revender dívidas hipotecárias. A única condição seria o envio de informes de prestação de contas semestrais ao Congresso.
Funcionários do Tesouro, do Serviço Financeiro Imobiliário e da Comissão Bancária do Senado iniciaram um encontro para debater o plano no Capitólio, tão logo a proposta foi encaminhada ao Congresso ontem. Os líderes democratas esperam aprovar o pacote até o fim desta semana. A Casa Branca afirmou que poderia ajustar as medidas ¿ até agora restritas às instituições financeiras com sede nos EUA ¿ de modo que empresas estrangeiras com afiliadas americanas também pudessem ser incorporadas ao socorro.
McCain pede avaliação; Obama, ajuda a mutuário
Os US$700 bilhões que poderão ser usados para comprar ativos hipotecários podres são equivalentes às despesas diretas do país na guerra do Iraque até agora e mais que o orçamento do Pentágono. Dividido pela população americana, o montante equivale a US$2 mil por habitante. E vai se somar a um déficit orçamentário já projetado para o próximo ano de mais de US$500 bilhões e aos resgates de US$85 bilhões e de US$200 bilhões aprovados pelo governo dos EUA para a seguradora AIG e as gigantes do refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac.
¿ Esse é um grande pacote, porque esse é um grande problema ¿ disse o presidente George W. Bush em coletiva na Casa Branca, após encontrar-se com o presidente colombiano Álvaro Uribe. ¿ Continuarei a lembrar a nossos cidadãos que o risco de não fazer nada é muito maior que o do pacote, e que, com o tempo, teremos muito dinheiro de volta.
Parlamentares democratas deixaram claro que querem incluir na nova legislação ao menos alguma garantia de que a administração usaria seu novo papel, como dona de elevado montante de créditos hipotecários, para ajudar centenas de milhares de americanos que estão sob ameaça de execução de suas hipotecas, ou seja, de serem despejados. Um programa para ajudar a refinanciar as hipotecas ¿ incluindo o aumento de US$800 bilhões para o teto da dívida nacional ¿ foi aprovado em julho. Mas o refinanciamento depende de tributos pagos por Fannie Mae e Freddie Mac, que foram nacionalizadas.
Ao tomar conhecimento da proposta da Casa Branca, o candidato republicano à presidência dos EUA, John McCain, afirmou em comunicado que havia falado com o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e que aguardava ansiosamente por rever ¿a proposta, bem como todas as alterações que poderão resultar da negociação no Congresso¿. McCain pediu aos parlamentares que considerassem as sugestões apresentadas por ele na sexta-feira, com o objetivo de ¿minimizar as conseqüências para os contribuintes¿.
Na Flórida, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, disse que ¿que temos que garantir que qualquer plano de nosso governo funcione não apenas para Wall Street, como também para a Main Street¿, em referência aos americanos que terão de lidar com elevados preços e perda de empregos.
¿ Esse é o tipo de ajuda de que o povo precisa agora ¿ disse Obama, que, na véspera afirmara ¿total apoio¿ ao plano.
O Nobel de economia Joseph Stiglitz, criticou o pacote. Em entrevista à agência de notícias EFE, ele afirmou que, em lugar de comprar dívidas podres dos bancos, o governo deveria renegociar hipotecas de americanos que estão com a corda no pescoço. Para Stiglitz, a crise é conseqüência da ¿má gestão¿ da administração Bush e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que não supervisionou corretamente o sistema financeiro. Também vinculou o problema à guerra do Iraque.
De madrugada, Justiça aprova venda do Lehman
Um tribunal de falências de Nova York aprovou de forma extraordinária a venda dos ativos americanos do Lehman Brothers, que pediu concordata na segunda-feira, ao britânico Barclays. O valor da operação é de US$1,75 bilhão. A decisão, que costuma levar semanas, foi anunciada depois da meia-noite de sexta-feira em Nova York (1h de ontem em Brasília). Na sexta-feira, o governo interveio em mais um banco americano. O Ameribank é o 12º banco a quebrar este ano. Com sede em Northfork, em Virgínia, o banco tinha US$115 milhões em ativos e US 102 milhões em depósitos em 30 de junho.
(*) Com agências internacionais