Título: Déjà vu no caminho da Casa Branca
Autor: Barreto, Fábio M.
Fonte: O Globo, 21/09/2008, O Mundo, p. 43

Campanha imita a arte, com disputa entre Obama e McCain e escolha de Sarah espelhada em seriados

Fábio M. Barreto

LOS ANGELES. Mesmo com sua natureza ficcional, o desfecho da sétima e última temporada da série ¿The West Wing¿ fez as vezes de vidente ao antecipar o duelo entre um jovem democrata não-caucasiano e um independente republicano muito mais velho e experiente, respectivamente, o congressista Matthew Santos (Jimmy Smits) e o senador Arnold Vinick (Alan Alda). Sejam plataformas de governo, sejam os perfis individuais, não há como negar as semelhanças entre os políticos fictícios e os atuais candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama e John McCain.

¿The West Wing¿ mudou o foco de seu último ano para acompanhar a campanha pela sucessão, em especial, a trajetória de Matthew Santos ¿ latino, propondo mudanças e apostando na esperança. ¿Vivemos num tempo de incertezas, mas a esperança não deve entrar na pauta... esperança é tudo que nos resta¿, defendia Santos, abertamente inspirado na figura de Barack Obama, que surgia na cena política depois do discurso para John Kerry, em 2004.

Pouco disposto a aceitar rótulos ou mudar seus ideais por pressões internas ou pesquisas de opinião, Santos sofreu diversos ataques étnicos e questionamentos sobre sua pouca experiência em Washington, mas sempre manteve sua postura.

¿ Ser latino é apenas um elemento desse personagem; o mesmo acontece com Obama, afinal, etnia é importante, mas não é o que define um indivíduo ¿ explica Jimmy Smits.

Do outro lado da eleição fictícia estava Arnold Vinick, cuja atitude, histórico e postura em cena remetem claramente a John McCain. Ele apostou tudo em sua experiência e na capacidade de desafiar o próprio partido como pontos fundamentais da campanha, além de escolher um vice bem parecido com Sarah Palin. Essa decisão, assim como a do time de McCain, é controvertida, uma vez que as chances de despertar a desconfiança dentro de sua própria base são grandes.

Num dos pontos altos da campanha em ¿The West Wing¿, os atores precisaram se preparar como se fossem participar de um debate real. Em tese, foi o que aconteceu, pois o episódio foi transmitido ao vivo em rede nacional. E é justamente no debate entre McCain e Obama, agendado para a próxima sexta-feira, que novas similaridades podem surgir, uma vez que toda a habilidade oratória de Santos é referência direta a Obama.

Por ora, outro momento de ¿a vida imita a arte¿ está nas pesquisas. Na série de TV, Santos e Vinick disputavam cada ponto percentual ombro a ombro e com grande poder de reação, o que os manteve parelhos até o final. Na campanha real, depois da injeção de ânimo que ambos os partidos conseguiram com suas convenções nacionais, a liderança volta a se alternar sem que nenhum dos candidatos seja capaz de abrir muita vantagem.

Os roteiristas creditam as similaridades à sorte e, em parte, resposta às necessidades da nação, mas há quem pense diferente.

¿ Sempre foi e sempre vai ser o papel da classe artística tocar em pontos fundamentais como esse. Pode ter sido sorte, porém existe uma consciência coletiva que permite esse tipo de manifestação ¿ avalia Michael Chiklis, o astro da série ¿The Shield¿.

Embora o foco esteja nos candidatos à Presidência, a vice de McCain, Sarah Palin, também encontra sua contraparte fictícia. O cenário de uma mulher como vice-presidente foi abordado por ¿Commander in Chief¿, no qual Geena Davis interpretava Mackenzie Allen, a primeira mulher a assumir a liderança do país depois da morte do presidente. Democratas e republicanos pouco convencidos têm trazido essa questão à baila, afinal de contas, como McCain é o candidato mais velho da História, Palin seria a pessoa ideal para assumir a Casa Branca? Essa série, porém, não deu certo e foi cancelada precocemente. Ambas são firmes em suas convicções, não ligam para responsabilidade partidária e, de acordo com o discurso na Convenção republicana, Palin deixou claro que quer ir a Washington para fazer o que acha certo. Mackenzie Allen concordaria em gênero, número e grau.

www.oglobo.com.br/mundo/eleicoesamericanas