Título: Exame da saliva ajuda a prevenir perda de dentes
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 21/09/2008, Ciência, p. 47

Alteração no fluido pode ser sinal de doença, mas dentistas ignoram avaliação

Prestar atenção na saliva ajuda a melhorar a qualidade de vida já que o fluido pode revelar alterações no organismo. No entanto, estudo coordenado pela dentista Denise Falcão, do Departamento de Odontologia da Universidade de Brasília (UnB), diz que apenas 7% dos dentistas costumam fazer o exame, que é simples. E pelo menos 69% dos profissionais entrevistados disseram não ter assistido à aula sobre saliva em cursos de especialização e/ou mestrado.

A saliva desempenha funções no equilíbrio da orofaringe. A falta desse fluido torna o pH bucal ácido e favorece a cárie. Além disso, a saliva contém uma substância que estimula a cicatrização da mucosa bucal e do esôfago. Portanto, sua deficiência predispõe a esofagites e aftas.

¿ Em outro estudo na UnB, vimos que a pessoa com saliva viscosa tem mais chances de sofrer mau hálito. Verificamos que portadores de doença periodontal costumam apresentar pH alcalino e saliva viscosa ¿ disse Denise. ¿ Não há como estabelecer relação de causa/efeito, mas as alterações dos padrões da saliva são indicadores de riscos para doenças.

Ela cita, por exemplo, a doença auto-imune síndrome de Sjögren, que se caracteriza pela redução de saliva e lágrimas, entre outros sintomas. Geralmente é diagnosticada após anos, o que compromete muito a saúde. Entretanto, se o exame da saliva fosse feito rotineiramente, a doença seria detectada precocemente.

¿ Outro exemplo é que a saliva muito fluida e/ou a falta de saliva pode ser uma das causas de ardência bucal, situação muito comum principalmente nas mulheres na pós-menopausa, e isso costuma causa depressão. Mudança na coloração pode indicar descamação excessiva da mucosa, inflamações e infecções ¿ alerta Denise.

Até mesmo o sono é ruim quando há pouca saliva. Isso porque a pessoa tende a se levantar com freqüência para beber água. Outros problemas são a maior chance de ter aftas e outras lesões em mucosa da boca; menor fixação de restaurações dentárias, alteração de paladar e até dificuldade para falar. Segundo Denise, o teste ¿ mostra a quantidade, a cor, a viscosidade e o pH ¿ dura 30 minutos e deve ser feito uma vez ao ano, ou a critério do dentista. A coleta e a seqüência de avaliação deverá ser repetida em um outro dia e no mesmo horário para verificar a média dos valores.

¿ Carregada de imunoglobulinas ou anticorpos, a saliva tem participação decisiva em algumas doenças ¿ diz o dentista Luciano Oliveira. ¿ Embora seja um bom método auxiliar de diagnóstico, é pouco difundido em consultórios.

A dentista Flávia Rabello afirma que o aumento da produção de saliva, quando necessário, poderá ser conseguido com técnicas para estimulação e uso de medicamentos. Há ainda a possibilidade de receitar substitutos desse fluido.

Outro estudo na UnB investiga a possibilidade de usar células-tronco na regeneração de tecidos com infecções bacterianas. E cientistas do King¿s College, de Londres, tentam produzir dentes a partir de células-tronco e realizaram pesquisas em camundongos. As células seriam programadas para se transformar em dentes e depois transplantadas para a mandíbula.