Título: Governador chama médicos faltosos de vagabundos
Autor: Amora, Dimmi; Curi, Ludmila
Fonte: O Globo, 23/09/2008, Rio, p. 19

Secretário afirma que profissionais serão demitidos

Dimmi Amora e Ludmila Curi

Durante a solenidade de inauguração da 14ª Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na Ilha do Governador, o governador Sérgio Cabral chamou ontem de vagabundos os médicos que faltaram ao plantão do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, no domingo. Na presença do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, Cabral cobrou uma reação do Conselho Regional de Medicina (Cremerj).

- Só pode ser vagabundo o médico que não vai trabalhar. Esse sistema de cooperativa me irrita, como também o estatutário, porque às vezes não tem compromisso. Quero ver o conselho denunciando esses safados - disse Cabral.

O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, foi categórico sobre o desligamento dos médicos:

- Faltou sem justificativa, se é cooperativado, é demissão imediata, independentemente de qualquer sindicância. Não vamos mais permitir que a população seja atendida por esses maus profissionais, é até bom que eles vão embora.

Cremerj vai apurar responsabilidades de todos

A Secretaria estadual de Saúde não soube informar quantos médicos já foram demitidos na atual gestão por falta sem justificativa. O órgão também não divulgou o déficit de profissionais no Getúlio Vargas, onde pelo menos 30 pacientes ficaram sem atendimento na noite de domingo. A direção da unidade afirmou que os médicos serão denunciados à Comissão de Ética do hospital.

Pablo Vasquez, diretor do Cremerj, afirmou que esses profissionais serão investigados e podem ser punidos caso não tenham justificativa para a falta. Ele afirmou que pelo menos dois dos cinco plantonistas já tinham comunicado à direção que não trabalhariam mais na unidade. O conselho também vai apurar as responsabilidades da direção da unidade, do secretário estadual de Saúde e do governo do estado. Para Pablo, a situação atual do Getúlio Vargas é pior do que no início de 2007, quando Cabral determinou a exoneração do então diretor. Segundo ele, na última sexta-feira houve uma vistoria do conselho no hospital e foi constatada ausência de profissionais de várias especialidades, como anestesista e neurocirurgiões:

- Vamos apurar as responsabilidades de todos. Se concluirmos que o diretor e o secretário, que são médicos, são responsáveis, eles serão punidos por nós. Se houver responsabilidade do governador, vamos encaminhar uma denúncia ao Ministério Público.

Em meados de agosto, pacientes também reclamaram da ausência de profissionais no fim de semana em três unidades do estado: Saracuruna, em Duque de Caxias; Pedro II, em Santa Cruz; e Rocha Faria, em Campo Grande. Ontem, na abertura da UPA, o governador lembrou que o controle de freqüência por ponto biométrico (que identifica o funcionário pela impressão digital) já foi danificado nos hospitais Rocha Faria, Pedro II e Albert Schweitzer (em Realengo).

- Estão reclamando que nós estamos colocando ponto biométrico. Tem que colocar o dedinho lá para dizer que está presente - disse Cabral.

Na UPA, clínicos e pediatras 24 horas por dia

Na 14ª UPA, inaugurada ontem, a população pode ser atendida 24 horas por dia por clínicos gerais, ortopedistas, pediatras e dentistas. A unidade conta ainda com serviço de radiologia e de exames laboratoriais. O modelo deve ser aplicado em outros estados do país.