Título: Corrida pela segurança
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 23/09/2008, Economia, p. 25

As dúvidas quanto ao plano de socorro ao sistema financeiro americano e, conseqüentemente, ao futuro da economia dos EUA fizeram os investidores correrem para aplicações mais seguras, como petróleo e ouro. O barril do tipo leve americano, negociado na Bolsa de Nova York, bateu recorde e chegou a saltar US$25 durante o pregão, para US$130, um aumento de 24%. No fim do dia, o preço do petróleo cedeu, mas nem por isso a alta deixou de ser recorde. O combustível fechou em US$120,92, com avanço de US$16,37 ou 15,65%. O movimento derrubou o dólar, que atingiu o menor patamar da História frente ao euro, e as bolsas de valores nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Também em relação ao real a moeda americana teve forte queda: 2,13%, para R$1,792, voltando à cotação de quase duas semanas atrás.

- Há sinais de que está ocorrendo um ataque especulativo à moeda americana via petróleo. Sendo o petróleo responsável por cerca de 40% do déficit externo americano, é por aí que se deixa o dólar mais vulnerável. Na nossa opinião, as autoridades americanas deverão anunciar em breve uma intervenção no mercado futuro de petróleo - avalia Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset.

Petrobras atenua queda da Bovespa

A explosão da cotação do petróleo acabou evitando uma queda maior da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), já que puxou as ações da Petrobras - os papéis têm peso de 18,21% no Ibovespa, principal indicador da Bolsa. Pela manhã, o índice chegou a subir 0,75%, mas não resistiu aos temores em relação aos Estados Unidos e fechou em queda de 2,86%, aos 51.540 pontos, praticamente na mínima do dia. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras tiveram ligeira queda de 0,23%, para R$34,90. As da Vale caíram 3,80%, para R$35,45.

- O mercado está aguardando o desdobramento do pacote nas suas entrelinhas - disse Rafael Moysés, gestor da Umuarama.

Além da busca por investimentos mais seguros, contribuiu para a elevada volatilidade do preço do petróleo o fato de os contratos para entrega do combustível em outubro terem vencido ontem, o que elevou muito a procura por eles. Até ontem, a maior alta em dólares havia sido registrada em 6 de junho deste ano, com avanço de US$10,75 do barril do leve americano. Os contratos para entrega em novembro, cuja negociação foi iniciada ontem, tiveram elevação de US$6,62 (6,4%), para US$109,37. O Brent, referência na Bolsa de Londres, também teve forte alta, embora não tenha batido recorde. O barril subiu US$6,43 (6,45%), para US$106,04.

O ouro também teve forte aumento. O preço do metal em contratos com vencimento em dezembro subiu US$44,50 ou 5,1%, para US$909 a onça-troy (31,1 gramas).

Preocupação com déficit americano

A incerteza também fez as bolsas americanas registrarem forte queda. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York se desvalorizou em 3,27%; e Nasdaq caiu 4,17%. As bolsas européias também caíram, com Paris liderando as perdas (2,34%). Apenas as da Ásia fecharam em alta, repercutindo o anúncio do pacote na sexta-feira passada. Tóquio fechou em alta de 1,4%, e Xangai saltou 7,8%.

De acordo com analistas, também aumentou entre investidores a preocupação de que o socorro bilionário aos bancos em dificuldade vai piorar o déficit no orçamento americano.

- O que queremos saber é como o governo vai comprar os créditos podres (dos bancos), e como e quanto eles vão pagar. E a grande questão é: Tudo isso vai tirar a gente da lama? - pergunta-se Giri Cherukuri, chefe de operações do OakBrook Investments LLC in Lisle.

(*) Com agências internacionais

BC AMERICANO TEM PRESSA PARA APROVAR PACOTE, na página 26

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