Título: Cartões e dívidas de carro podem entrar no pacote
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 23/09/2008, Economia, p. 27

Democratas defendem ampliação de medidas no socorro ao sistema financeiro americano. Bush poderá ceder

José Meirelles Passos

WASHINGTON. Apesar de ter havido, ontem, um acordo em princípio entre o governo e o Congresso dos Estados Unidos, para a aprovação ¿ ainda esta semana ¿ do pacote de emergência de US$700 bilhões para enfrentar a crise financeira, dúvidas e incertezas fizeram com que Wall Street terminasse o dia com uma queda de 373 pontos (índice Dow Jones), e o barril de petróleo ¿ que chegou a subir US$25 ¿ fechasse em alta de US$16. Uma das propostas dos democratas inclui cartões de crédito e financiamento de carros no pacote.

Uma das principais dúvidas, uma vez conhecidos os detalhes do pacote e as contra-propostas oferecidas pela maioria democrata (a oposição) no Capitólio, era quanto ao valor do programa:

¿ Não está claro que os US$700 bilhões serão suficientes. Não está claro, também, quem terá permissão de participar do pacote. Quanto cada banco será permitido a descarregar (de dívidas) sobre o público? Serão os bancos forçados mesmos a abrir os seus livros para o público? Como serão avaliadas as suas dívidas? Há muitas incertezas ¿ afirmou Paul J. Miller, Jr., analista da FBR.

`Ainda há muitos obstáculos pela frente¿

Outro especialista do setor, Doug Roberts, estrategista chefe de investimentos da Channell Capital Research, endossou:

¿- O mercado percebe que mesmo que essa nova legislação tenha exito, ainda há muitos obstáculos pela frente. As pessoas começam a notar que essa medida pode ser apenas um tapa-buracos. Temos muito chão pela frente ¿ disse ele, ilustrando o pessimismo do mercado.

O Partido Democrata, com maioria tanto na Câmara quanto no Senado, conseguiu impor a sua própria versão do pacote. Boa parte do texto apresentado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, foi reescrita tanto pelo deputado Barney Frank, presidente da Comissão de Serviços Financeiros da Câmara, quanto por Christopher Dodd, presidente da Comissão de Bancos do Senado.

O governo, em princípio, acolheu as mudanças principais. Os detalhes, no entanto, continuavam a ser negociados no fim da noite. O objetivo do governo é o de aprovar o pacote ainda amanhã. Os parlamentares acham que isso poderia demorar dois dias mais, dependendo dos argumentos do governo com relação às propostas do Capitólio.

Há quatro mudanças essenciais. A primeira delas é a de que juízes poderão reescrever as hipotecas, de forma a reduzir o valor dos pagamentos mensais para as famílias que estão com problemas financeiros. A segunda é a de que os bancos e financeiros que desejarem a ajuda do governo terão de se comprometer a, obrigatoriamente, limitar os pacotes salariais que oferecem aos seus executivos.

Cartões de crédito também podem entrar no pacote

Essas duas propostas foram de autoria de Frank. Segundo ele, Paulson não gostou muito da segunda mas ficou de pensar a respeito:

¿ Para mim é inconcebível que digam que os contribuintes devem arriscar o seu dinheiro por causa de más decisões feitas por pessoas que continuem a ser recompensadas, sem restrições e, de fato, premiadas pelos seus erros ¿ disse Frank.

O senador Dodd foi o autor de outras duas propostas. Uma delas dá amplos poderes para o governo comprar de qualquer instituição, nos EUA e no exterior, quaisquer tipos de dívidas podres ¿ incluindo as de cartões de crédito e empréstimos para a compra de veículos. Só que, ao fazer isso, o governo também deve receber ações das empresas beneficiadas com a ajuda. Esses títulos seriam vendidos mais tarde, para cobrir os custos do programa.

A sugestão seguinte é a de que todas as iniciativas do pacote terminem no fim do ano que vem ¿ quando o governo prefere que elas sejam válidas por dois anos.

¿- O que nós queremos deixar muito claro é que os contribuintes sejam os primeiros da fila para receber o dinheiro de volta. Nós queremos, ainda, uma fiscalização rigorosa. É importante que tratemos disso rapidamente, como sugere o governo, mas é mais importante ainda que façamos isso de forma responsável ¿ disse Dodd.

O presidente George W. Bush tratou, logo cedo, de pressionar o Congresso a agir com rapidez:

¿- O mundo inteiro está de olho para ver se agimos rapidamente ¿ alertou.

Bush, que ontem à noite receberia várias delegações estrangeiras na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), na abertura de sua assembléia anual, em Nova York, pretendia garantir a seus colegas de todo o mundo que seu governo está tomando as providências necessárias para evitar que a crise americana se espalhe pelo mundo. Ao mesmo tempo ele pretendia sugerir que os demais governos também tomassem medidas para evitar contágios.

Dana Perino, a porta-voz da Casa Branca, disse que a princípio Bush não queria usar dinheiro dos contribuintes para salvar bancos e financeiras. Mas acabou sendo convencido pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson:

¿ Esse não foi o primeiro instinto dele. Ele não ia querer agir no sentido de ajudar essas companhias se não estivesse convencido, pelo juízo de sua equipe econômica, que isso era essencial para proteger os contribuintes americanos e a economia americana como um todo ¿ argumentou ela.

WALL STREET VIVE FIM DA ERA DE CASSINOS EM BANCOS, na página 29

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