Título: Lula repete: crise não atravessou o Atlântico
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 23/09/2008, Economia, p. 30

Presidente elogia pacote de socorro dos EUA e diz que Brasil está em boas condições de resistir às turbulências

Marília Martins

NOVA YORK e SÃO PAULO. Em seu primeiro dia em Nova York para participar da 63ª Assembléia-Geral das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou o pacote americano de US$700 bilhões, afirmou que a economia brasileira está em boas condições para resistir e voltou a dizer que "a crise não atravessou o Atlântico". Em 17 de setembro do ano passado, em Madri, Lula avisou que diria ao presidente George W. Bush que não deixaria a crise das hipotecas atravessar o Atlântico - esquecendo-se de que para viajar dos EUA para o Brasil não é preciso cruzar um oceano.

- A crise americana é mais grave do que parecia há seis meses. Penso que o governo americano tomou as medidas adequadas. Se isso tivesse sido feito antes, talvez a crise não tivesse tomado a direção que tomou. Todos nós temos que torcer para que a crise americana seja a menor possível, porque, se for muito grande, vai gerar recessão em todos os países - disse ontem Lula, que pretende cobrar do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial medidas especiais. - Quando é um país pequeno que tem crise, todos eles dão palpite. Quando é a maior economia do mundo que entra em colapso, a gente não vê nenhum palpite. É preciso que agora os bancos centrais comecem a tomar medidas para regular e controlar o sistema financeiro internacional, para que a especulação e a jogatina não sejam a prioridade de determinados setores.

Lula abre hoje a assembléia da ONU defendendo ações coordenadas de líderes mundiais para reduzir os efeitos da crise, e voltará a falar de biocombustíveis e combate à fome. A agenda prevê uma reunião com os primeiros-ministros da China, Wen Jiabao, da Índia, Manmohan Singh, da Espanha, José Luiz Zapatero, e da Austrália, Kevin Rudd, para traçar uma estratégia global. Lula também se mostrou preocupado com a redução do crédito internacional a empresas brasileiras no exterior:

- No Brasil, temos menos problemas por causa da diversificação das exportações e importações. Temos que cuidar com muito carinho para que as coisas no Brasil não dêem uma guinada para trás. Temos que trabalhar com muito cuidado. Daí, meu otimismo de dizer para o povo brasileiro que, até agora, graças a Deus, a crise não atravessou o Atlântico.

Meirelles: pacote dos EUA é "audacioso e bem pensado"

Para Lula, é hora também de repensar as decisões sobre empresas estatais.

A agenda do presidente ontem incluiu o lançamento da campanha "Brasil sensacional", para apresentar novos destinos turísticos no exterior:

- Os brasileiros têm mania de falar mal do Brasil. Quando a gente convida alguém para visitar a casa da gente, deve pelo menos botar uma cerveja na geladeira.

Em São Paulo, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou que é prematuro fazer qualquer previsão sobre o rumo da crise internacional, que tem sido monitorada "hora a hora, dia a dia". Meirelles admitiu que o Brasil não escapará dos efeitos e que o mais importante é manter "uma política responsável e séria". Ele classificou de "audacioso e bem pensado" o pacote americano. O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, afirmou que não faltará crédito no mercado doméstico e que problemas deverão ficar restritos à renovação de linhas internacionais.

COLABOROU e Aguinaldo Novo