Título: Unasul se reúne em NY com Bolívia na pauta
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 23/09/2008, O Mundo, p. 35

Líderes aproveitam assembléia da ONU para segundo encontro. Governo acusa oposição de retardar assinatura de acordo

Janaína Figueiredo

BUENOS AIRES. Uma semana depois de ter recebido os presidentes da União Sul-Americana de Nações (Unasul) em Santiago, onde o bloco discutiu a crise política boliviana, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, convocou uma nova cúpula regional para amanhã, em Nova York, onde a maioria dos chefes de Estado latino-americanos participará da Assembléia Geral da ONU.

O conflito entre o presidente da Bolívia, Evo Morales, e seus opositores promete roubar a cena no encontro, que contará com a presença dos principais líderes da região, com exceção do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que não irá a Nova York. Forte aliado de Morales, ele não participaria da assembléia. O presidente boliviano e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursam hoje no plenário da Assembléia Geral da ONU.

Kirchner é cotado para secretário-geral da Unasul

Na visão de analistas bolivianos, a decisão de Bachelet (presidente pro tempore da Unasul) de convocar uma nova reunião mostra o alto grau de preocupação que predomina na região.

- Fica cada vez mais claro que a situação boliviana tem um peso simbólico para todos os países da região. A Unasul quer resolver a crise boliviana e, também, prevenir situações similares no continente - afirmou o professor da Universidade Maior de San Andrés, Roger Cortez Hurtado, por telefone.

Ontem o chanceler Celso Amorim encontrou-se com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Eles conversaram sobre a crise na Bolívia e Amorim enfatizou as ações para fortalecer a democracia na America Latina e para consolidar as relações da Unasul.

Além de discutirem a crise boliviana, os membros da Unasul tentarão avançar na designação de um secretário-geral do bloco. Um dos mais cotados é o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007).

O governo da Bolívia e os sindicatos de agricultores sem-terra aumentaram ontem a pressão sobre três dos governadores da oposição (Beni, Tarija e Santa Cruz) para que fechem um acordo sobre o conflito político do país. O líder nacional dos movimentos sociais, Fidel Surco, anunciou ontem que endureceria a pressão sobre Santa Cruz, exigindo que o Congresso aprove a convocação a um referendo proposto por Morales para aprovar uma nova Constituição.

As bases do acordo foram definidas em uma primeira rodada de negociações que durou quatro dias e terminou nesse domingo, depois de três semanas de violentos protestos regionais que deixaram 17 mortos e prédio públicos depredados. Mas desentendimentos no último momento forçaram o adiamento da assinatura até quinta-feira, quando Morales volta da Assembléia Geral da ONU. Ontem, o presidente propôs estender em 15 dias o prazo para que o Congresso convoque o referendo para a nova Constituição.

O vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera, afirmou que o governo suspeita que a oposição não tem vontade de assinar um acordo.

- Há indícios de que na verdade (os três governadores da oposição, Tarija, Santa Cruz e Beni) não têm vontade para assinar um acordo - disse Linera.

A Polícia Federal de Epitaciolândia, no Acre, deportou ontem três bolivianos no fim de semana. Entre os detidos e deportados está Weimar Becerra Ferreira, 47 anos, considerado uma das principais lideranças do movimento dos camponeses da Amazônia boliviana e amigo de Morales, segundo a PF. Eles passariam informações obtidas sobre refugiados bolivianos ao Exército de La Paz.