Título: Congresso exige punição a culpados pela crise
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Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 25

ABALO GLOBAL: Senadores pedem medidas para evitar especulação e querem estender socorro bilionário a mutuário

Em sabatina com presidente do Fed e secretário do Tesouro, parlamentares criticam falta de detalhes do plano

WASHINGTON. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, estiveram sob fogo cruzado dos senadores ontem em audiência na Casa para debater o plano de socorro bilionário ao sistema financeiro. Apesar do apelo para que o Congresso aprove com urgência o pacote, os congressistas - democratas e republicanos - receberam a proposta com irritação e ceticismo. E exigiram punição dos responsáveis pela crise.

- Depois de ler a proposta, só posso concluir que não é só a economia que está em risco, senhor secretário, mas também nossa Constituição - disse o democrata Christopher Dodd, presidente do Comitê de Bancos do Senado, dizendo-se "impressionado" com a falta de detalhes do plano.

Dodd referia-se ao poder irrestrito que Paulson teria para comprar e administrar ativos podres de bancos e, possivelmente, de outras instituições em crise. Pelo plano, o secretário só teria que prestar contas ao Congresso a cada seis meses. Os parlamentares exigem que os informes sejam mensais, que a ajuda se estenda aos mutuários e que sejam impostos limites à distribuição de bônus de executivos. Querem ainda incluir na proposta original a necessidade de supervisão das operações da Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities (CFTC), para evitar a especulação. A administração Bush calcula em US$700 bilhões o custo do pacote.

- É embaraçoso olhar para isso, e eu acho que é embaraçoso para os EUA. Há muitos culpados - disse Paulson.

FBI investiga instituições envolvidas na crise

Bernanke afirmou que o plano é a melhor alternativa, dadas as condições frágeis do mercado.

- As medidas do Congresso são urgentemente necessárias para estabilizar a situação.

O apelo pela aprovação tem um porquê: na sexta-feira o Congresso entrará em recesso, devido às eleições americanas, em novembro. Mas os senadores não parecem ter se convencido.

- O plano retira a dor de Wall Street e a espalha pelos contribuintes. Esse socorro não é solução. É socialismo financeiro e é antiamericano - disse o republicano Jim Bunning.

Apesar da resistência do Senado, a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, disse "há progresso" nas negociações e que o plano pode ser aprovado até o fim da semana. Paulson e Bernanke falarão hoje na Câmara sobre o plano. Ontem, enquanto eles Fed eram sabatinados no Senado, a Casa Branca enviou sua tropa de choque - incluindo o vice-presidente Dick Cheney - à Câmara para fazer lobby a favor do pacote.

A rede CNN anunciou ontem que o FBI (a polícia federal americana) está investigando agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac; o banco de investimentos Lehman Brothers; e a seguradora American International Group (AIG) e seus gestores por fraude. Sem dar detalhes, o FBI informou apenas que está apurando a responsabilidade dos executivos na divulgação de "informações falsas".