Título: MAIS DE 400 ANOS LIGADAS A CRISES
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 26

Primeira proibição de vendas de ações a descoberto ocorreu em 1610

Em 1609, um mercador contratado para vender ações da Companhia Holandesa das Índias Orientais no mercado futuro levou o preço das ações para o abismo. Um ano depois, autoridades holandesas impuseram a primeira proibição à prática de venda de ações a descoberto da História. Os responsáveis pelas vendas de ações a descoberto têm sido acusados por quase todas as crises financeiras dos últimos 400 anos. Estiveram sob fogo cruzado na crise de 1929 e o presidente americano Herbert Hoover condenou a prática em 1932. Mais recentemente, foram acusados pela quebra do mercado em 1987 e, em 1997, a Malásia acusou o Credit Lyonnais depois do colapso financeiro no país. No ano seguinte, o Federal Reserve de Nova York resgatou o Long Term Capital Management para evitar um impacto maior de sua posição no mercado de fundos de hedge.

¿ Temos sido os bodes expiatórios por décadas ¿ disse David Tice, gerente do fundo Prudent Bear. Até mesmo em tempos de bonança vendedores de ações a descoberto são menosprezados por apostar contra as ações. Mas eles dizem que apenas mostram que as ações estão sobrevalorizadas.

¿ Fomos nós que alertamos para os excessos do crédito e o perigo nisso, tentando chamar a atenção de reguladores e investidores institucionais ¿ apontou Tice. Desta vez, eles dizem que não criaram a bolha no mercado imobiliário que levou à crise, apenas descobriram suas consequências.

A Comissão de Valores Mobiliários (SEC) proibiu a venda de ações a descoberto na última quinta-feira. Mas quando as ações de empresas financeiras caíram na segunda-feira, especialistas disseram que as restrições foram contornadas com outros mecanismos de venda.

¿ Não há evidência acadêmica de que os vendedores de ações a descoberto podem por si só derrubar uma companhia sem que existam outros fatores envolvidos ¿ disse Paul Asquith, professor de finanças da Escola Sloan, do Instituto Tecnológico de Massachussetts (MIT, na sigla em inglês).