Título: Investimento estrangeiro fica em US$35 bi
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 27

Para o BC, país receberá recursos de fora este ano, apesar da crise, devido a grau de investimento

Patrícia Duarte e Aguinaldo Novo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A despeito da crise financeira global, que afetará a atividade econômica no mundo todo, o Brasil continuará recebendo recursos externos voltados para produção. É o que calcula o Banco Central (BC), que mantém suas projeções de investimento estrangeiro direto (IED) em US$35 bilhões para 2008 e, para 2009, em US$33 bilhões. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esse fluxo será garantido pelo grau de investimento que o país obteve recentemente:

- O Brasil está crescendo, a economia está arrumada. Temos feito a lição de casa e isso é sentido pelos investidores.

Caso a estimativa seja concretizada, o país terá batido recorde histórico de entrada de recursos produtivos internacionais. Em 2007, a cifra foi de US$34,585 bilhões. Só no mês passado, o IED ficou em US$4,633 bilhões e, em setembro, deve chegar a US$5,8 bilhões. Com isso, no ano, o saldo acumulado é de quase US$30 bilhões.

- A projeção de 2008 é até conservadora, apesar de recorde. A expectativa é de que os fluxos continuem - disse ele, acrescentando que o número esperado em 2009, embora expressivo, é um pouco menor devido à crise.

Mercado também prevê manutenção de fluxo

Os setores que mais investem no Brasil são, e devem continuar sendo a curto prazo, financeiro, metalurgia, atacado, automotores e bebidas e fumo. A atividade de extração de minerais metálicos, por exemplo, respondeu sozinha por 21% do total de IED feito no ano até agora. Mas outros segmentos também vão se tornar focos de atração, como a petrolífera. Para o economista-chefe do Santander e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Alexandre Schwartsman, as descobertas na área do pré-sal vai incrementar o IED no país.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, concorda com o cenário e vai mais longe, calculando que o IED em 2009 ficará próximo a US$40 bilhões. Ele diz que um levantamento feito com nove países que receberam grau de investimento, mostrou que o IED cresceu 174% em média nos dois anos seguintes:

- O IED em 2008, no mundo, deve recuar 37% e isso não acontecerá no Brasil.

A crise mundial pode ser percebida no mercado financeiro brasileiro, porém com menor intensidade se comparada a outros momentos de turbulência. No mercado acionário, segundo o BC, no mês passado, houve saída líquida de investimentos estrangeiros de US$1,643 bilhão e, em setembro, até ontem, o montante contabilizado era de US$1,063 bilhão. Boa parte desses recursos, no entanto, foi para papéis de renda fixa que, neste mês, tinham saldo positivo de US$818 milhões.

Em relatório divulgado ontem, a Sobeet avalia que a percepção do investidor estrangeiro é de que no longo prazo o país continua a reunir condições para um crescimento sustentável - e retorno garantido.

- Repetiremos o recorde mesmo se nos últimos quatro meses do ano a média de ingresso cair para US$2,5 bilhões - disse Afonso Lima, lembrando que, até agosto, o volume acumulado no ano é de US$24,6 bilhões, com média mensal de US$3,1 bilhões.

Na mesma linha da análise da Sobeet, a KPMG divulgou ontem o resultado de pesquisa com executivos das principais multinacionais latino-americanas, privadas e estatais. O Brasil aparece como o principal destino de investimento destas empresas em 2009 e daqui a cinco anos. A sondagem foi realizada entre junho e julho passados, ainda antes do ápice da crise financeira, na semana passada. Mas, para a consultoria, o que vale é a percepção de longo prazo.